Cabo Verde, na costa oeste da África, é um arquipélago de dez ilhas, com cerca de 500 mil habitantes. O país está na rota do cabo submarino Ellalink, o primeiro a conectar diretamente a América do Sul à Europa pelo Oceano Atlântico. No entanto, não foi possível que tivesse acesso a essa conectividade por não possuir uma rede acadêmica própria. Isso fez com que Cabo Verde não se qualificasse para fazer uso de pares de fibra do projeto Bella (Building Europe Link to Latin America), para colaboração entre as duas regiões.
Pesquisadores brasileiros viram nesse caso uma oportunidade de inovação e, em conjunto com a RNP, submeteram um projeto aprovado na chamada de 2022 do Programa de Inovação da Géant para auxiliar Cabo Verde na construção de sua rede acadêmica.
A iniciativa chamada Renaas – Rede de Ensino e Pesquisa as a Service – oferece todas as funcionalidades de uma rede virtual como um serviço, e pode, com essa mudança de paradigma, ajudar países em desenvolvimento a implantar ou até ampliar suas redes acadêmicas com baixo custo.
“Cabo Verde foi um caso emblemático. As instituições já têm conectividade, existem provedores comerciais no país. Entretanto, eles não têm os privilégios e as facilidades de uma rede acadêmica”, declarou Moisés Ribeiro, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), participante do projeto, liderado pela Trinity College Dublin (TCD), da Irlanda.
A experiência do Brasil em auxiliar outros países a construírem suas redes acadêmicas veio com Moçambique, após um acordo de cooperação bilateral assinado em 2013. A RNP ajudou a desenhar a rede de Moçambique, além de auxiliar a implantação de serviços de TIC, capacitar profissionais e apoiar projetos de telessaúde e segurança. Assim como Moçambique, Cabo Verde também faz parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Tecnologia adotada
O projeto Renaas se baseia em Network Functions Virtualization (NFV), que propõe a criação de redes sobrepostas à infraestrutura física existente, com funcionalidades que operam de forma virtualizada, o que permite oferecer os benefícios de uma NREN com custos mais reduzidos.
“O modelo proposto foi avaliado pela Geánt como interessante até mesmo para redes acadêmicas desenvolvidas”, informa Frank Slyne, da Trinity College Dublin. A infraestrutura permitirá a implantação rápida de conectividade e reações a congestionamentos e falhas. Por ser baseada em nuvem, também será conveniente na disponibilização de serviços relevantes às instituições, como o eduroam.
O RENaaS é fruto da confluência de outros projetos de pesquisa e de cooperações de longa data. Vale mencionar o testbed RARE. Há o H2020 EU-BRAZIL FUTEBOL, que envolvia a UFES em parceria com a Trinity College, e ainda o Grupo de Trabalho NosFVeraTO, que fez parte do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da RNP em 2018.
Deste último, surgiu a startup brasileira Vixphy, também participante do RENaaS, que oferece a solução de nuvem privada e NFV em código aberto.
Um dos parceiros do Renaas é a Fundação Smart City CV, que desenvolve um projeto de Cidades Inteligentes para a criação de um ecossistema de inovação em Cabo Verde. Também está sendo articulada uma parceria com federações de NRENs como a Rede de Pesquisa e Educação da África Ocidental e Central (WACREN), para que outros países em desenvolvimento possam se beneficiar dos resultados do piloto no país.
O projeto está previsto para ser concluído até o final de dezembro. Em março de 2023, a Géant realizará um workshop para que se mostrem os resultados.
Para saber mais sobre a chamada do Programa de Inovação da Géant, acesse https://community.geant.org/community-programme-portfolio/innovation-programme/.