Como a Rio-92 possibilitou a primeira rede de internet do país

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No dia 3 de junho de 1992, uma conferência internacional no Rio de Janeiro criaria as condições necessárias para a primeira conexão de internet oficialmente realizada no país. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, realizada no Riocentro, entre os dias 3 e 14/6/1992, reuniu chefes de estado e representantes de governo de cerca de 180 países, além de organizações não governamentais, cientistas, jornalistas e a sociedade civil para discutir o futuro do planeta.

Considerada um marco no debate sobre desenvolvimento sustentável, a Rio-92 atraiu os olhares do mundo inteiro e precisava de conexão internacional estável e de boa capacidade para acontecer. Na época, o setor de telecomunicações no Brasil era estatal e alegou não ter condições de prover acesso à internet para a ocasião. Foi nesse momento que a RNP, até então um projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), articulou parcerias para realizar a entrega de uma infraestrutura de internet para o evento.

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Rio92 Delegates

 

O Fórum Global e a Alternex

Em paralelo à Rio-92, acontecia no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, o Fórum Global, onde representantes de ONGs se organizaram em tendas e discutiram medidas para lutas socioambientais. O Relatório Brundtland, mais conhecido como “Nosso futuro comum”, publicado em 1987, foi uma grande influência para os ativistas, e trouxe pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável e suas implicações políticas e econômicas. 

 

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Fórum Global

Crédito: UN Photo

 

Assim como a Rio-92, o Fórum Global também tinha necessidades de comunicação digital. Para isso, foi contratada a Alternex, mantida pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Basicamente, a Alternex era um sistema (“bulletin board system – BBS“) por onde era possível consultar arquivos por uma base de dados e também se comunicar com usuários, inclusive com instituições no exterior, duas vezes por dia. 

O responsável pela Alternex, Carlos Afonso, articulou-se com o coordenador do projeto RNP, Tadao Takahashi (in memoriam), e dessa parceria, surgiram recursos do governo brasileiro para equipamentos que dariam suporte à infraestrutura necessária para os dois eventos, e que ficariam no país para o uso posterior. 

Primeiro, veio a conexão Rio-São Paulo com duas saídas internacionais para os EUA, uma na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na liderança de Demi Getschko, e outra na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Ainda em 1992, a RNP entregou a primeira rede de internet de alcance nacional, interligando dez capitais e o Distrito Federal. A princípio, a rede tinha fins acadêmicos, ou seja, para que pesquisadores brasileiros estivessem conectados entre si e com seus pares internacionais.

Nesse período, a RNP teve papel fundamental em conscientizar a comunidade acadêmica sobre a importância estratégica da internet para o país. A internet comercial, como a conhecemos hoje, surgiria no Brasil três anos depois, em 1995.

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Michael Stanton

 

 

“O projeto RNP nasceu de uma demanda de pesquisadores brasileiros, que queriam maior interação e colaboração com parceiros nacionais e internacionais. Eles desejavam usar seus computadores para trocar mensagens e compartilhar textos, programas e dados científicos, assim como faziam seus pares em outros países com o uso da tecnologia internet”.

Michael Stanton – cientista de redes da RNP, foi coordenador de P&D do projeto RNP entre 1990-1993.
 

Os seguintes pioneiros da internet no Brasil já foram reconhecidos por sua indução no Hall da Fama da Internet
Demi Getschko (2014), Tadao Takahashi (2017), Michael Stanton (2019), Carlos Afonso e Liane Tarouco (2021).