O ano de 2020 não poderia terminar sem falarmos dela: a transformação digital. O termo não é recente, tampouco ultrapassado. Atualmente, é a questão mais comentada frente as novas formas e hábitos em um ambiente que converge do físico ao digital. E, por isso, refletir sobre como utilizá-lo a seu favor, quando pensamos em mercado, é uma das estratégias de sucesso que foram discutidas no Fórum RNP 2020: Encontro com o Futuro.
Transformação digital e a estratégia de informação
Na palestra com Silvio Meira, cientista-chefe da Digital Strategy Company, professor extraordinário da Cesar School, professor emérito da UFPE (Centro de Informática – CIn), fundador e presidente do Conselho de Administração do Porto Digital e membro dos conselhos do Magalu, MRV, CI&T e Capes, o maior desafio da inovação é ter estratégias, “inovação não é tecnologia, é evolução”.
Desta forma, Silvio elenca oito dimensões da inovação na prática como forma de resolver e exercitar o conceito centrado na transformação e na mudança de comportamento de agentes, mercado e consumidores, são elas:
1) Os grandes problemas nacionais: infraestrutura, investimentos; política: encomendas estratégicas: legislação, regulação, tempo;
2) A produção: ambiente competitivo, complexidade sistêmica, estratégias de M&A;
3) O conhecimento: universidades, centros de CT&I, redes sociais, startups;
4) O consumo: mercado de partida, processos de difusão, qualidade da demanda;
5) O empreendimento: capacidade de liderança, avaliação/aceitação de risco, visão e experiência de mundo;
6) A cultura: novas habilidades, motivação pessoal, insatisfação/novidade;
7) O contexto: tratamento de erro/aprendizado, metaestabilidade sistêmica, abertura para iniciativas pessoais;
8) O investimento: capital empreendedor, infraestrutura, capacidade de mudar cadeias de valor, mercados (abaixo, acima).
Para isso, o passo inicial para a inovação é estar embasado no que Silvio chama de “problemas reais”, onde sem o motivo, não há a possibilidade de inovar em nenhum lugar. “Para inovar em quase todas as organizações, em quase todos os mercados, o megaproblema é o problema de tentar recriar, criativamente, (quase) toda a rede do negócio”, afirma.
Cases de inovação com a transformação digital e a pandemia
Contudo, não existe uma fórmula padrão para tal transformação. Ainda mais quando uma pandemia assola o mundo, obrigando-o a se sustentar à distância. Em 2020, o novo Coronavírus trouxe novas incógnitas não somente na área da saúde, como na sociedade e no meio econômico. Como resultado, as mudanças ocorreram em magnitudes diversas, mas principalmente, em rede.
Silvio, como membro dos conselhos do Magalu, mostrou dados de crescimento em acessos no mundo digital. Em comparação ao 2º trimestre de 2020 com o 2º trimestre de 2019, por exemplo, houve o crescimento de acessos no E-Commerce da empresa de 192%, “um crescimento estratosférico”, como ressalta Silvio.
Mas, além disso, pesquisas revelam como os executivos ao redor do mundo sentem a aceleração de crescimento de mercado, devido à Covid-19. Com base nos dados da Twilio Global 2.569 Clevel, em junho de 2020, citados por Silvio, 43% dos executivos pensam que o seu mercado acelerou de um a quatro anos para o digital; 27% de cinco a nove anos e 23% de 10+ anos. “Para 97% dos líderes, em média, a Covid-19 acelerou as estratégias digitais das empresas por seis anos. Eles acreditam que a pandemia acelerou sua transformação digital”, completa Silvio.
Seria uma nova tendência irreversível?
“Acho que é”, comenta Silvio. Para o cientista, “são novos mercados, empresas, times e pessoas que estão na transição do físico (ao analógico) para uma articulação (feita por todos e cada um) do físico, habilitado, aumentado e estendido pelo digital, orquestrado no espaço social, em tempo (quase) real”, o que ele chama de “Figital”.
Da mesma forma, o olhar para os novos modelos de trabalho, principalmente, híbridos, também remetem ao digital e a rede, acelerando ainda mais a necessidade de evolução e adaptação frente à transformação digital. “Nesse processo, onde a gente vai de adaptação para evolução, para transformação, é o processo de inovação sobre plataformas, sistemas, serviços e redes digitais, combinada à transformação estratégica, onde a gente realiza mudanças sobre como fazer, para quem fazer, onde e porque fazer”, ressalta.
Seis passos para ser bem-sucedido na transformação e inovação digital
Embora pareça muito complexo, seria possível ter um passo a passo para colocar tais transformações na prática e obter sucesso? Bem, um estudo da FUJITSU Global Digital Transformation Survey (Report 2018) elenca seis pontos críticos que precisam ser revistos para que este novo cenário seja praticado.
Ponto 1 – Lideranças transformadoras: lideranças que habilitem o processo de transformação digital.
Ponto 2 – Todos têm que adquirir novas habilidades para terem sucesso;
Ponto 3 – Inovação para competir em redes;
Ponto 4 – Sua capacidade de competir é a capacidade de formar redes e codificar;
Ponto 5 – Agilidade tem que ter em todos os níveis da organização, das decisões às ações;
Ponto 6 – Aprenda a usar dados para gerar benefícios.
Porém, para isso, você precisa de um contexto. Ou seja, onde aplicar cada um deles? Silvio nos responde com mais perguntas, ou melhor, cinco sobre a estratégia de dados.
O que significa ter uma estratégia de dados?
Para uma estratégia de dados e de informação, Silvio Meira sugere que respondemos cinco perguntas básicas: “1) Que dados “temos”? Tanto os nossos quanto aos que podemos ter acesso; 2) Onde “ficam” os dados? Em nossos sistemas? Armazenados em ambientes públicos? 3) Que sistemas usamos, que dados e pra que? Quem cuida dos nossos dados e o que faz com eles; 4) Já resolvemos problemas de conformidade (nossas regras para usar nossos dados) e regulamentação (LGPD)? 5) Como os dados podem: aumentar nossa agilidade? Reduzir riscos e custos? Criar oportunidades, receitas e lucros?”.
Para Silvio, “Os dados não são o novo petróleo, mas o novo urânio”, explicou, dizendo que eles precisam ter tratamento adequado, senão podem se tornar radioativos.
Os três princípios para ter uma estratégia de informação
Por fim, segundo Silvio Meira, há três princípios básicos para que se possa ter uma estratégia de informação e, assim, realizar a transformação e visualizar seus resultados, visando, principalmente, a experiência do usuário.
Princípio 01: adquira somente os dados que forem efetivamente necessários para servir melhor ao cliente e criar valor para o negócio;
Princípio 02: mantenha os dados no ciclo de vida de informação do negócio apenas pelo tempo absolutamente necessário para atingir os objetivos do primeiro postulado, após o que os procedimentos de terminação apropriados devem ser realizados;
Princípio 03: trate os dados sob guarda do negócio com algoritmos que obedeçam a segunda lei da natureza digital e garantam que os resultados – incluindo as decisões – criem valor para o cliente ao mesmo tempo que criam valor para o negócio.
Para Silvio, “Estratégia é transformação”, logo, a forma mais eficiente de se obter sucesso.
Assista à palestra completa de Silvio Meira no Fórum RNP 2020 no canal da RNP no Youtube.