Artigo: A infraestrutura de internet acadêmica nos próximos 30 anos

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Prever o futuro é uma tarefa ingrata. Mas isso não deve nos impedir de fazer projeções sobre os avanços tecnológicos no curto e no médio prazo a partir do que conhecemos hoje. Por isso, no ano em que a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa completa 30 anos, somos tentados a nos perguntar como estaremos nos próximos 30. Mas, para podermos projetar o futuro, é necessário recuarmos no tempo para entender o percurso percorrido até aqui.

A primeira geração da infraestrutura de internet acadêmica iniciou sua operação em 1992, com um anel Rio de Janeiro- São Paulo-Brasília- Rio de Janeiro e um ramal até Porto Alegre, a 64 kb/s, enquanto radiais a 9,6kb/s com um ou outro circuito de redundância ligavam o Sudeste às principais cidades do Nordeste e a Belém do Pará. Em seguida, veio em 1994 a geração dos circuitos em Mb/s, iniciando-se com 2 Mb/s, e posteriormente, já nos anos 2000, com até 155 Mb/s. A partir de 2005, vieram a geração dos circuitos em Gb/s, iniciando-se com 2,5 Gb/s, depois 10 Gb/s e, chegando a geração dos primeiros circuitos de 100 Gb/s em 2018. A expansão destes circuitos de 100 Gb/s da rede acadêmica deverá atingir todas as capitais do país já em 2020.

E o futuro? Para arriscar uma resposta, devemos observar que, além da multiplicação por milhão da banda, de 64 kb/s para 100 Gb/s, em praticamente 30 anos, passamos do uso de circuitos de satélites atendendo a algumas capitais para o uso de circuitos em rádio enlace e, a partir dos anos 2.000, de maneira generalizada mas não abundante, para o uso de circuitos ópticos. E será a fibra óptica o meio a ser usado também daqui a 30 anos?

Tudo indica que sim. Pelo menos, não se percebe uma diminuição do uso deste meio de comunicação. Ao contrário, está-se “fibrando” tudo – as estradas, as ruas e até os rios e mares. E como fibra óptica dura 20, 30 anos, muito provavelmente teremos as que foram implantadas agora, existindo e suportando circuitos ópticos daqui a três décadas.

Mas os sistemas ópticos com alta densidade de multiplexação de canais ópticos vão nos trazer que velocidades? Se pensarmos linearmente, a partir do que foi há 30 anos, poderíamos dizer que seria um milhão de vezes a atual, de 100 Gb/s para, digamos 100 Pb/s (Petabits por segundo, que são 1.000.0000 Gigabits por segundo). Bom, se não for 100 Pb/s, poderá ser 10 ou mesmo 1 Pb/s, mas, ao que parece, não ficará somente nos Terabits por segundo (1.000 Gigabits por segundo). A linearidade não pode ser assegurada, pois existem barreiras tecnológicas a serem superadas à medida que se avança com a velocidade. Mas a experiência passada nos permite acreditar que esses limites serão superados, podendo-se, por exemplo, utilizar fibras ópticas especiais para altíssimas velocidades.

Mas não seria a velocidade a principal mudança na rede acadêmica, mas a mudança do plano da camada elétrica para o da camada óptica, onde comutamos diretamente, nesta camada, lambdas, pacotes ou rajadas ópticas de bits. E a camada óptica já avança para dentro de nossas redes metropolitanas e locais, induzindo a utilização, no seu final, não somente a comunicação, mas até a computação óptica ou fotônica.

E se quisermos dar asas à imaginação, poderíamos sair das comunicações ópticas tradicionais para as quânticas, onde o bit passa a ser o quantum bit, ou qubit, e o meio pode ser até o ar! Mas isso já é tarefa para um escritor de ficção científica…