Comemoramos, neste estúrdio 2017, 25 anos desde que a primeira rede de internet operou no Brasil. Mais de uma centena de pesquisadores e engenheiros, em 1992, interligaram o Rio de Janeiro (LNCC – Laboratório Nacional de Computação Científica) a São Paulo (Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), trazendo vida a um projeto de pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) sobre redes, criado em 1989, chamado RNP.
A primeira missão da então Rede Nacional de Pesquisa (RNP) foi interligar professores e pesquisadores das universidades com uma tecnologia mais simples, rápida e aberta a inovações. Tudo em plena crise dos anos 1990.
Em 1992, nascia de fato a RNP, fruto do trabalho de pesquisadores que lutaram para estender ao Brasil a autonomia e o desenvolvimento econômico e social que vivenciavam em seus artigos e experimentos. Se em seu início a rede foi acadêmica, já a partir de 1995 tornou-se um veículo que impeliu e viabilizou as políticas de ciência e tecnologia e de comunicações que moldaram a internet como a plataforma de empreendedores públicos e privados.
Teria sido mais um monopólio, caso uma aliança entre cientistas e sociedade civil não tivesse sido capaz de agendar uma formulação de internet brasileira aberta e inovadora.
Os exemplos de sucesso são muitos. O sistema mais utilizado na rede, a Web, foi um produto de cientistas de diversos países que precisavam colaborar em física. Tornou-se a base das comunicações de fluxos globais. Mesmo nos grandes desastres ou revoluções, a resiliente Web sustenta a comunicação para a vida e os direitos humanos.
A linguagem mais apropriada para nossas aplicações móveis, embarcada invisível em nossos games, apps e coisas conectadas, a Lua, é carioca da Gávea. Pensada para ser simples, leve e segura, ganhou o mundo.
A aplicação de videocolaboração mais poderosa, atualmente disponível em cerca de 1.500 campi de universidades, institutos, hospitais de ensino conectados à RNP em todo o território, a Mconf, é gaúcha. Diariamente, coloca pessoas em contato, dá aulas, grava seminários, compartilha ideias, organiza projetos globais. Somos cerca de 4 milhões de alunos, professores e pesquisadores interligados em alta velocidade, de 100 Mbp/s a 100 Gb/s.
Mas não podemos ainda dizer que é do Oiapoque ao Chuí. Infelizmente, apenas metade de nossa população tem acesso à internet. A solução para incluir a todos vem sendo postergada. Nossas políticas têm sido ineficientes, e os marcos legais e normativos se esgotaram.
De novo, vemo-nos em crise econômica e fiscal e se fala que a saída está em viabilizar os investimentos do setor privado. Em parte. Nomeadamente, os provedores regionais de internet são um exemplo de como avançar nas regiões mais desfavorecidas de conectividade.
Como a primeira chuva em Brasília faz a grama marrom, aparentemente morta, florescer rápido e verde, o Brasil é vitalidade. Há muita capacidade e valor nos empreendedores e cientistas brasileiros. O que parece nos faltar é valorizar o investimento público em ciência e tecnologia e inovação, alavanca e motor dos empreendimentos.
Como pensar este futuro da internet no país sem a pesquisa? A inclusão, as oportunidades de desenvolvimento e o conhecimento dependem da pesquisa da internet nas ciências sociais, na saúde, na biodiversidade, na defesa, no clima, na computação, na cultura, em todas as disciplinas.
Parece que estamos sem saber o que fazer no Brasil. Dizia o cientista Wernher von Braun (1912-1977), pesquisa é o que faço quando não sei o que estou fazendo.
*Artigo do diretor-geral da RNP, Nelson Simões, veiculado na Folha de S. Paulo em 27/10.
Crédito da foto: Zanone Fraissat/Folhapress.