Tecnologia baseada em Internet da Coisas promete redução da obesidade infantil

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O excesso de peso já afeta uma em cada três crianças em idade escolar no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Esses valores vêm crescendo com os anos e uma das causas é a nova realidade familiar contemporânea, em que os pais já não têm tempo de acompanhar de perto o dia a dia dos filhos. Imaginem se tivesse disponível no mercado uma solução para os pais receberem informações dos filhos em tempo real, mesmo à distância e que auxiliasse as crianças a adotarem um estilo de vida saudável.

É para tentar solucionar este caso que doze instituições do Brasil e da Europa se reuniram no projeto Solução Inteligente de Tratamento da Obesidade Infantil por meio do Potencial da Internet das Coisas (em inglês, OCARIoT). A iniciativa pretende desenvolver aplicativos associados a sensores, para monitorar em tempo real informações do dia a dia das crianças – atividades físicas realizadas, batimentos cardíacos, queima calórica, refeições etc. – tendo como base uma rede de IoT.

“As crianças utilizarão um sensor, como um smartband, para coletar dados biomédicos em tempo real, que serão complementados com alguns inputs no aplicativo, identificando perfil da criança e propondo estratégias de mudança de comportamento. O projeto propõe um estudo prévio realizado por um time multidisciplinar de médicos, nutricionistas e outros profissionais da saúde e da engenharia da computação para, por meio de técnicas de análise de dados, identificar perfis e possíveis riscos na rotina das crianças estudadas. O objetivo é promover mudanças de hábitos saudáveis a esses indivíduos, por meio de estratégias que serão embarcadas na tecnologia resultante, como design persuasivo e gameficação”, explicou o coordenador do projeto e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Eurico Vasconcelos.

A ideia é aproveitar a estreita relação entre a nova geração e a tecnologia, incluindo as crianças como peças chave para o gerenciamento do seu bem-estar e na manutenção de hábitos saudáveis, além de oferecer soluções personalizadas para cada caso e informações detalhadas para os pais. Uma das grandes preocupações do grupo é em relação à segurança de dados. Por isso, a equipe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) está trabalhando na segurança das informações que serão captadas das crianças

A economista Juliana Velloso, mãe de duas meninas, uma de 3 e outra de 5 anos, sempre teve uma preocupação muito grande com a alimentação das filhas, procurando oferecer a elas alimentos mais naturais, em detrimento dos industrializados. “Sou até conhecida na escola por ter essa preocupação excessiva”, destacou. Juliana costuma ficar cerca de 9h fora de casa e, ao conhecer a proposta desse projeto, ficou interessada no impacto que pode gerar à sociedade. “A obesidade infantil é um problema que aflige vários países do mundo. Muito legal ter uma alternativa assim que traga a criança para a conscientização de forma lúdica”, analisou.

O projeto inclui demonstrar e validar a proposta por meio de pilotos que serão aplicados no Brasil e na Europa. O objetivo é promover dados comparativos, a fim de identificar semelhanças e diferenças entre as regiões. O lado brasileiro já conta com o apoio da prefeitura de Fortaleza e do governo do Estado do Ceará, localidade em que devem ser realizados os testes no país.

União de expertises

As 12 instituições integrantes do projeto OCARIoT acompanharão todas as etapas do projeto. Contudo, cada uma tem expertises e linhas de atuação próprias. Os pesquisadores da Unifor, por exemplo, são responsáveis pela coordenação-geral das atividades do projeto do lado brasileiro, além de liderarem a especificação do modelo estatístico de obesidade, design de interação, desenvolvimento do aplicativo e fase de testagem em escolas. O Núcleo de Projetos em Tecnologia da Informação da Universidade Estadual do Ceará (NPTEC/UECE) atuará no design do aplicativo junto à Unifor e vai liderar as pesquisas na área de Nutrição.

Já o Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde da Universidade Estadual da Paraíba (Nutes/UEPB) responde pelos aspectos éticos e legais da solução, aquisição de dados por meio de sensores (IoT) e participa de atividades de validação funcional da solução, disseminação e exploração da mesma. Enquanto isso, o CPqD, além de atuar na segurança da informação, está dedicado na especificação arquitetural do projeto, monitoramento do dados coletados e integração da plataforma. O Instituto Atlântico é responsável pela análise dos dados e desenvolvimento de um framework em IoT.

Série: projetos selecionados pela 4ª Chamada Coordenada BR-UE em TIC

Esta é a terceira matéria da série de reportagens em que estamos apresentando com detalhes os seis projetos selecionados pela 4ª Chamada Coordenada BR-UE em TIC. O objetivo é que os pesquisadores tenham espaço para descrever de maneira concreta o que será desenvolvido nesse período de três anos de atividades financiadas pela cooperação. No Brasil, a chamada é realizada pela RNP, por meio do seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias Digitais para Informação e Comunicação (CTIC), sob supervisão da Secretaria de Políticas de Informática (Sepin) do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Ao longo dos três anos de atividades acompanhadas pela cooperação, a iniciativa OCARIoT receberá o apoio de R$ 4,8 milhões do governo brasileiro, por meio da RNP, que utiliza o fundo da Lei de Informática, além de outros € 1.5 milhão pelo programa H2020 da União Europeia. “Reunir instituições brasileiras e europeias torna-se fundamental para aumentarmos o alcance dos projetos que desenvolvemos no país, além de ser uma oportunidade de trocar experiências com instituições de ponta e pesquisadores que desenvolvem ações semelhantes e/ou complementares às nossas”, ressaltou Eurico Vanconcelos.

Na próxima semana, você conhecerá o projeto Fasten – Sistemas de fabricação flexíveis e autônomos para produtos personalizados.