O ambiente universitário é, historicamente, um espaço privilegiado para experiências de exibições de filmes e debates sobre o cinema. Hoje, esses espaços cumprem o papel de formação do público para o cinema e de valorização do audiovisual como arte, além de difundir a produção independente e de ampliar o acesso ao cinema em circuitos sem fins comerciais.
Alguns dos cineclubes mais antigos do Brasil surgiram nas universidades, como o Clube de Cinema de São Paulo (Cinusp), fundado em 1940 por Paulo Emílio Salles Gomes na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). O Cinusp foi pioneiro na promoção de mostras de cinema europeu, exibição de filmes socialmente engajados, além de promover a revista Clima, publicação cultural do setor.
Das experiências do movimento cineclubista na década de 1980 também surgiu o Cine Metrópolis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Atualmente instalado no Centro de Vivência do campus da Ufes, em Goiabeiras, o Cine Metrópolis é considerado um equipamento cultural incorporado à vida universitária e uma referência de difusão audiovisual para a população capixaba. Há mais de 20 anos em atividade, o tradicional cinema possui 240 lugares e está aberto diariamente, com três sessões.
Uma das pioneiras em realizar exibições dentro do campus universitário foi a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que, nos anos 60, já tinha projetores em película de 35 e 16mm e realizava sessões de filmes clássicos, como o “Encouraçado Potemkim”, de Sergei Eisentein, para 2 mil pessoas. O cinema da UFRGS, a sala Redenção, foi oficialmente inaugurado em 1987 e hoje participa de projetos como o Festival Escolar de Cinema, que proporciona a experiência de estar em uma sala de cinema a alunos do ensino básico ao médio.
Somam-se ao movimento outras iniciativas de exibição em caráter de extensão universitária, como o CecineClube, promovido pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e o Cineclube da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG). Este último é parte do projeto “O Cineclube como um espaço de extensão, cultura e cidadania”, que visa desenvolver o princípio universal de formação integral do cidadão por meio do cinema e sua inclusão em processos socioeducativos pela leitura, aprendizado e o audiovisual.
Cinemas em Rede
Atualmente, 12 salas de cinemas estão interligadas à infraestrutura de rede acadêmica pelo projeto Cinemas em Rede, desenvolvido pela RNP em parceria com os ministérios da Cultura (MinC) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O objetivo é constituir um circuito exibidor por meio das redes avançadas de ensino e pesquisa e atuar como um projeto de difusão de conteúdos audiovisuais.
Ao longo de 2016, pelo Cinemas em Rede, nove filmes foram exibidos em sessões conjuntas, reunindo um público de mais de 1,5 mil pessoas. Também foram promovidos debates após as exibições com os diretores dos filmes e outros convidados, transmitidos pelo serviço de Conferência Web da RNP.
Com o alcance do projeto, outras instituições federais de ensino técnico e superior manifestaram interesse em participar, como o Cine Aruanda, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); o Cine UFG, da Universidade Federal de Goiás (UFG); e o CineUFSCar, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Segundo o gerente da RNP de Relacionamento com a Cultura, Álvaro Malaguti, a expansão da rede federal de educação profissional abre espaço para integrar outras iniciativas ao Cinemas em Rede. “A rede de Institutos Federais abriga uma enorme gama de cineclubes e inciativas de exibição e debates, como o Cineclube Cinema e Educação de Corrente (Cinecor), do Instituto Federal do Piauí (IFPI), e o Cineclube Nova, do Instituto Federal do Espírito Santo, campus Venda Nova, para citar duas iniciativas ligadas a programas de extensão voltadas para as comunidades locais”, aponta Álvaro.
Para o gestor, a expansão da oferta do ensino superior e técnico-profissionalizante em território nacional e suas respectivas iniciativas de exibição contribuem para a ampliação do acesso ao cinema, uma vez que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), menos de 10% dos municípios brasileiros contam com esse tipo de equipamento cultural.