Flexibilidade, programabilidade e escalabilidade são alguns dos benefícios trazidos pelas redes definidas por software (SDN, em inglês), em comparação à infraestrutura de rede tradicional. Com a tecnologia SDN, toda a inteligência é executada fora dos equipamentos, em um ponto central, o que facilita o controle da rede e a adequação de novos serviços.
Para o coordenador do projeto Infraestrutura Definida por Software (IDS) na RNP, José Rezende, o paradigma SDN pode ser comparado ao câmbio automático de um carro, devido ao seu ponto de vista mais abstrato. “O câmbio manual do carro faz com que as pessoas estejam mais próximas da máquina, mas acrescenta complexidade na hora de dirigi-lo. Já o câmbio automático facilita o uso do carro e torna mais simples a sua condução”, afirmou Rezende, que também é pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A partir do SDN, torna-se possível o fatiamento da rede, ou seja, múltiplas redes virtuais são criadas dentro de uma mesma rede física, o que permite a experimentação de novas arquiteturas de internet. “Em cada uma dessas fatias, é possível experimentar outras arquiteturas que possam coexistir com a tecnologia IP”, disse o pesquisador, referindo-se ao projeto Fibre (Future Internet Brazilian Environment for Experimentation), de Internet do Futuro.
O poder de abstração é uma das vantagens apontadas em migrar para a tecnologia SDN, por tornar mais simples o gerenciamento da rede. Nas redes tradicionais, todas as decisões políticas são implementadas localmente, tornando necessária a configuração de cada um dos equipamentos. Já nas redes definidas por software, as decisões são centralizadas e todas as configurações feitas em um único plano de controle, que concentra uma visão global de todos os componentes. “Apesar de a rede ser composta por múltiplos equipamentos, o plano de controle a enxerga como um único dispositivo, capaz de descobrir automaticamente novos caminhos e ser resiliente a eventuais falhas”, garantiu Rezende.
Diante dessas possibilidades, a RNP coordena, desde 2015, o projeto IDS, que visa acompanhar a evolução gradual da arquitetura da rede Ipê para a tecnologia SDN. O intuito é construir uma rede sobreposta ao backbone, para realizar testes e desenvolver protótipos, além de estabelecer diretrizes de novas arquiteturas e colaborar com pares internacionais.
Atualmente, uma das iniciativas internacionais pioneiras em SDN é a da rede acadêmica norte-americana Internet2, que hoje oferece duas opções diferentes de rede para a comunidade, em arquitetura TCP/IP e definida por software. O protocolo Openflow como padrão internacional, o NFV (Network Functions Virtualization), que permite a virtualização não apenas da infraestrutura, mas também das funções de rede, e a computação em nuvem estão entre as tendências que estão sendo adotadas. “Os sistemas de hoje estão engessados e deixam apenas nas mãos dos fabricantes a possibilidade de inovar”, comentou Rezende. “Com a praticidade dessas tecnologias, o céu é o limite”, finalizou.