Copernicus: tecnologia aliada à Observação da Terra

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Diminuição da poluição do ar durante a pandemia de coronavírus, monitoramento das mudanças climáticas e alertas de incêndios florestais. Essas são algumas das atividades e pesquisas de interesse para o Brasil e para o mundo, que fazem uso dos dados gerados pelo projeto Copernicus. O programa da Comissão Europeia conta com a cooperação internacional de diversos países, incluindo o Brasil, Colômbia e Chile, na América Latina.

O Copernicus foi criado com o objetivo de fornecer serviços baseados em dados de satélite e in-situ (ou seja, coletado em campo), que permitem observar o estado do nosso planeta. Para isso, o programa planejou um conjunto de missões satelitárias, chamadas Sentinel (Sentinela, em português), coordenadas pela Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).Cada missão Sentinel foca em um aspecto da observação da Terra, a atmosfera, os oceanos, e a cobertura terrestre. Suas imagens geram dados para previsões meteorológicas, observação do uso e da cobertura do solo, das áreas costeiras e de oceanos, e monitoramento da atmosfera. Como exemplo, alguns dados são relativos à qualidade do ar, às emissões de carbono e ao estado da camada de ozônio.

Acordo com o Brasil

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e a Comissão Europeia firmaram, em 2018, um Arranjo de Cooperação no contexto do Programa Copernicus. Dentro desse acordo, a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a ESA firmaram um Arranjo de Cooperação Técnica para tratar de acesso aos dados Sentinel, atividades de calibração de dados e desenvolvimento de aplicações.

Segundo Lubia Vinhas, coordenadora de Observação da Terra do Inpe, a inovação trazida pelas missões Sentinel, como um todo, está nos termos de uso, com uma política que permite o acesso aos dados para colaboração científica.

“A inovação é a complementariedade das missões de cada um dos Sentinels e a expectativa de continuidade dessas missões. A política de acesso livre aos dados Sentinel contribui para que novas aplicações sejam desenvolvidas e outras aprimoradas”, afirmou Lubia.

O Arranjo de Cooperação Técnica com a ESA, com vigência até 2024, prevê que, no Brasil, o Inpe se torne o hub regional da América Latina para os dados do Copernicus, com direito ao acesso a dados do conjunto de satélites e instrumentos não espaciais que faz parte do Programa, assim como a cooperação no processamento de dados e desenvolvimento de aplicações para os serviços do Copernicus.

Um exemplo da importância do Copernicus em nível mundial foi o lançamento de um sistema internacional para o monitoramento de carbono e gases que provocam o efeito estufa. Os dados apoiaram a implementação do Acordo de Paris, que estabelece medidas para a redução da emissão de gases com efeito estufa a partir de 2020.

Brumadinho e desmatamento na Amazônia

A parceria com o nosso país permitiu o uso de imagens de satélite para ajudar pesquisadores a desvendar casos recentes de desastres naturais, como o rompimento em janeiro de 2019 da barragem em Brumadinho (MG), mantida pela empresa Vale S/A, e o avanço do desmatamento na Amazônia.

Para dar suporte à fiscalização do desmatamento e degradação florestal, o Inpe desenvolveu um sistema de alertas em caso de alteração da cobertura florestal na região. Os dados contribuem para a alimentação do TerraBrasilis, plataforma do Inpe para organização, acesso e uso de dados geográficos de monitoramento ambiental.

Outro caso em que o Sentinel 1, o primeiro satélite da série, poderá ajudar é no monitoramento de derramamento de óleo na costa brasileira, em parceria com a Marinha e com o Ibama. Segundo o Inpe, uma aplicação em crescimento no Brasil é o uso da técnica de interferometria diferencial para detecção de deformação do solo.

Já os dados do Sentinel 2 são úteis no monitoramento de desmatamento nos biomas brasileiros e do Sentinel 3 no monitoramento de sistemas aquáticos, entre outras aplicações oceanográficas e atmosféricas.

Segundo os pesquisadores do Inpe, os dados produzidos pelo programa Copernicus são muito volumosos. A cobertura de imagens Sentinel 1, 2 e 3 para toda a extensão do Brasil, gera mais de 170 Petabytes por ano. “Por isso, um hub nacional demanda uma infraestrutura de rede e de armazenamento robusta, interfaces de acesso eficientes para atender a comunidade de usuários, além de considerar a sua sustentabilidade considerando os custos envolvidos”, informou Lubia. 

Com sede em São José dos Campos (SP), o Inpe é uma unidade de pesquisa atendida pela RNP e está conectado à rede acadêmica nacional a 10 Gb/s. Essa capacidade poderá aumentar em até dez vezes nos próximos dois anos. 

O lançamento do projeto Bella, que irá construir a primeira conexão direta entre a Europa e a América do Sul, também beneficiará a transferência de dados e pode intensificar a colaboração científica entre essas regiões.

Legendas: exemplos de resoluções espaciais em imagens ópticas do satélite Sentinel 3, do projeto Copernicus, para o monitoramento de uma área de desmatamento.