Silvio Meira: como ser bem-sucedido na transformação digital?
Keynote speaker do terceiro e último dia de #FórumRNP2020, o cientista-chefe da Digital Strategy Company, professor extraordinário da Cesar School, professor emérito da UFPE (Centro de Informática – CIn), fundador e presidente do Conselho de Administração do Porto Digital e membro dos conselhos do Magalu, MRV, CI&T e Capes, Silvio Meira apresentou o “caminho das pedras” para as organizações que querem realizar uma transformação digital exitosa.
A necessidade de promover essa mudança foi acelerada com a pandemia do novo coronavírus e obter sucesso na jornada passa, principalmente, pela capacidade de criar e implementar uma estratégia de dados incoroporada à de negócios. “Nunca a rede digital foi tão importante. Sua capacidade de competir é equivalente à de formar as redes, codificar e escrever os códigos. A vasta maioria das empresas que terá sucesso em sua transformação digital terá escrito seus próprios códigos”, cravou Meira.
E o que deve ser feito para sabermos usar os dados e gerar benefícios? Para o cientista, é essencial responder a cinco perguntas: 1) Que dados nós temos? 2) Onde ficam os dados? 3) Que sistemas usam que dados e para quê? 4) Já resolvemos os problemas de conformidade e regulação? 5) Como os dados podem aumentar nossa agilidade, reduzir riscos e custos e criar oportunidades, receitas e lucros?
Contrariando aqueles que têm chamado os dados de “o novo petróleo”, Silvio Meira criou sua própria analogia, para ele, muito mais apropriada. “Dados precisam ser minerados, refinados, agregados e atingir massa crítica para criar valor. Depois que a gente cria e entrega, ele se torna radioativo. Manter na sua posse dados que você não precisa mais é um risco muito maior do que manter petróleo. Manter uranio é muito mais complexo e descartar uranio é muito mais complexo. Por isso, dados são o novo urânio e não o novo petróleo”, concluiu.
Mobilidade urbana
O 5G está chegando ao Brasil e prometendo uma verdadeira revolução na forma que nos conectamos e usamos a internet. O desafio: como oferecer redes móveis de qualidade garantindo a mobilidade urbana, principalmente em espaços públicos? O painel que deu início ao terceiro e último dia do Fórum dedicou-se a essa questão, que tem implicações políticas, tecnológicas, econômicas e sociais. Por exemplo, como garantir a interoperabilidade e o compartilhamento de custos entre diferentes atores?
O painel foi moderado pelo diretor de Engenharia e Operações da RNP, Eduardo Grizendi, com o diretor de Projetos de Infraestrutura de Telecomunicações e Banda Larga do Ministério das Comunicações, Wilson Diniz, o fundador e CEO da Linktel, Jonah Trunk , e o pró-diretor de Pós-Graduação & Pesquisa no Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), José Marcos C. Brito, que elegeu o obstáculo número um para a implementação do 5G no Brasil. O principal desafio é de fato econômico. As empresas vão ter poder de investimento de implantar redes em todos os lugares ou vamos ter implantação lenta nos rincões do país?”, questionou.
Biblioteca Virtual
Com a digitalização de livros e revistas educacionais e científicas, as instituições passaram a oferecer para estudantes e pesquisadores meios mais ágeis de acesso a conteúdo, também mais facilmente atualizado. Daí, veio a possibilidade de compartilhar conteúdo com número maior de pessoas que nem precisam ser da mesma instituição”, esse foi o contexto e definição adotada pelo especialista na RNP, Alexandre Uchoa, para as bibliotecas virtuais.
Para desbravar o conceito, ainda iniciante no Brasil, mas impulsionado pela pandemia que obrigou livros físicos a descansar nas estantes das bibliotecas presenciais das instituições de ensino, enquanto estudantes precisaram continuar estudando, o painel trouxe algumas perspectivas: das bibliotecas brasileiras, representada por Letícia Strehl, Diretora da Biblioteca Central da UFRGS e responsável por coordenar tecnicamente 31 bibliotecas do Sistema da instituição; o Portal de Periódicos da CAPES como um exemplo de repositório de conhecimento há 20 anos, com participação de Katyusha Madureira, analista em Ciência & Tecnologia na Fundação Capes; e as experiências e os desafios vivenciados por países que já praticam esse formato de disseminação de conhecimento, com depoimento de Caren Milloy, Diretora-Adjunta de Licenciamento na Rede Acadêmica do Reino Unido (Jisc).
Privacy By Design: O futuro de projetos, serviços e produtos
Uma tradução possível para o termo em inglês, que entrou em debate no painel de mesmo nome, seria: incorporar nos processos a garantia de privacidade e proteção de dados pessoais dos titulares, desde o desenho de um produto, serviço ou negócio. Uma solução importante, pós-LGPD, mas também uma mudança cultural e educativa, dentro das instituições. O que não deve gerar resistência. “A lei não é parede, é portal”, garante Debora Batista Araujo, Privacy and Data Protection Director na Claro.
Ser proativo e não reativo, ser preventivo e não corretivo, pode ser a melhor opção que redesenhar tudo, segundo a advogada e consultora Fabiani Borges: “É bem menos custoso do que a adequação de um produto pronto, que dá muito mais trabalho e custa muito mais dinheiro”.
Na prática, o conceito prevê a implementação de medidas técnicas e organizacionais para prevenir que haja qualquer impacto ou risco significativo a privacidade das pessoas, como:
1) Envolver a alta liderança das organizações nessa cultura de proteção de dados para tomadas decisões que respeitem os princípios de privacidade.
2) Pensar em medidas de segurança como anonimização, pseudonimização e minimização, ao arquitetar os processos de coletas de dados.
3) Fazer mais questionamentos como: “É realmente necessário coletar tantos dados?”, “Qual a finalidade do que estou armazenando?”, “Vale a pena correr esse risco?”.
4) Engajar times de diferentes áreas para uma atuação multidisciplinar. Que tal combinar os times jurídico, de segurança da informação e de tecnologia? Eles precisam falar a mesma língua!
5) Documentar os processos é fundamental para lançar luz aos riscos presentes.
6) Reeducar e sensibilizar as equipes para construir essa cultura de privacidade (um dos pilares principais do conceito), de maneira que seja um projeto de todos da organização.
Essas lições foram elencadas no debate, com moderação de Rodrigo Facio, especialista em Segurança da Informação na RNP e convidadas Debora Batista Araujo, Privacy and Data Protection Director na Claro. Fabiani Borges, consultora e sócia da Espinheira Borges & Quadros Advogados Associados. Raissa Moura Ferreira, Data Protection Officer na Inloco.
Perspectivas em Governança com a Blockchain
Contratos inteligentes, certificações digitais. A Blockchain está se posicionando como uma nova tecnologia de núcleo, sendo adotada em diferentes segmentos da indústria e em diferentes iniciativas de Governos ao redor do mundo. Você sabe o que é a Blockchain e como ela pode colaborar na Governança das instituições? Estas e outras perguntas foram tratadas no painel a partir da visão de especialistas do Comitê Técnico de Blockchain da RNP. O painel teve a moderação da professora titular e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Fabíola Greve e a participação de Alberto Paradisi, diretor de Estratégia no CPqD, e Tatiana Revoredo, membro da Oxford Blockchain Foundation.
Conecti Brasil: Ecossistema de informações e serviços no âmbito de educação, ciência, tecnologia e inovação
“Imagine o seguinte cenário: você acessa uma plataforma no âmbito de ciência, tecnologia e, por meio de uma chave identificadora única, como o número de um CPF, já vê os seus dados, trabalhos acadêmicos, áreas de interesse, técnicas relacionadas a sua atuação, conteúdos relevantes sobre o que você estuda, além de laboratórios de pesquisa e equipamento”, instigou o gerente de Soluções na RNP, Claudio Fabrício.
Essa é a função da plataforma Conecti Brasil, que nasceu da parceria de seis instituições (RNP, Capes, CNPq, Cofab, Ibict e Scielo) para criar uma plataforma nacional de integração de dados, relacionados à educação, ciência, tecnologia e inovação, além de criar um ecossistema de informações em pesquisa, com foco no usuário, o pesquisador. A solução funciona como “balcão de negócios”, no qual é possível unir dados de qualidade que cada uma dessas instituições poderia prover, com os que cada uma gostaria de consumir.
“São diferentes atores que compõe esse ecossistema: pesquisadores, docentes, grupos de pesquisa, instituições de ensino e pesquisa, organizações de fomento, empresas privadas, editoras e publicadores. O resultado que temos é a produção intelectual publicada e disponibilizada em diversas fontes de informação. A ideia é melhorar a conexão entre os dados e informações, mas também a conexão entre pessoas, infraestruturas, grupos, bem como todo o ecossistema, com benefícios significativos”, explica Silvana Vidotti, docente e pesquisadora na Unesp. Além de reunir todos esses agentes e os dados que os cercam, a ideia é otimizar a rotina dos pesquisadores, para que, ao invés de dedicar tempo para preencher diferentes plataformas com a mesma informação, eles possam focar no avanço da ciência e pesquisa no Brasil.
No painel sobre a solução tecnológica com mediação de Cláudio, colaboraram Harrysson Nóbrega, gerente de Projetos no ConectiBR; Jean Guerethes, arquiteto de Soluções na RNP; Silvana Vidotti, docente e pesquisadora na Unesp.
Educar para o uso e o desenvolvimento consciente de aplicações da Inteligência Artificial
Você sabia que a Inteligência Artificial (IA) pode ter uma profunda influência nas sociedades, meio ambiente e vidas humanas, particularmente na mente humana? Isso se dá, em parte, pelas novas maneiras como a IA influencia o pensamento humano e a tomada de decisão autônoma pelas máquinas. Essa influência pode afetar vários setores da sociedade e, em particular, a educação, ciência, e a cultura. O painel que debateu e aprofundou o tema contou com a presença dos pesquisadores Rosa Maria Vicari, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Wagner Meira, da Universidade de Minas Gerais (UFMG), o neurocirurgião Carlos Brusius e moderação do diretor-adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação da RNP, Lisandro Granville.
Em suas apresentações, os palestrantes convidados listaram os benefícios e riscos que o uso da IA podem trazer para a sociedade de maneira geral. Em cima disso, Rosa Vicari apontou qual tem sido a principal preocupação relacionada ao assunto. “Como as tecnologia de IA continuam a proliferar em todas as áreas da vida contemporânea, os pesquisadores estão procurando maneiras de torna-las seguras para os usuários”, disse.
Identidade digital no Brasil e no mundo
O pesquisador e consultor Alexandre Barbosa, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) fechou a programação de palestras do #FórumRNP2020 falando sobre identidades digitais no Brasil e no mundo, refletindo sobre o futuro da identificação com base no histórico e nas tendências. A moderação ficou por conta da diretora de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação da RNP, Iara Machado.
Alexandre destrinchou a amplitude do conceito “identidade digital” e seus conjuntos de atributos, aprofundou o debate sobre a linha tênue que separa privacidade X identidade e trouxe o expressivo número divulgado pelo Banco Mundial: 1 bilhão de pessoas ao redor do planeta não possuem prova oficial de identidade. “Ele mostra que não é tão simples assim a questão. Do ponto de vista tecnológico, já temos a solução, mas o complicado é estabelecer a unicidade que consiga chegar a todos”, avaliou Alexandre.