Inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina (machine learning – ML) são assuntos cada vez mais recorrentes no debate sobre cibersegurança e foram temas centrais na programação do segundo dia do 23º Workshop RNP. O cientista-chefe da NIKSUN, Walter Willinger, fez a palestra de abertura desta terça-feira (24) sobre o uso da IA e do ML na área de redes de computadores. Lisandro Granville, diretor-adjunto de P&D da RNP, moderou a palestra do keynote speaker do WRNP, intitulada “AI and Cybersecurity: The Emperor has no Clothes” (IA e Cibersegurança: o imperador está nu, em tradução livre), que trouxe importantes questões sobre os avanços da área de pesquisa e as soluções para problemas de segurança de redes.
O mercado de IA e ML relacionado a cibersegurança teve valor estimado em cerca de US$ 10 bilhões, só no último ano. Willinger apresentou a aplicação dos sistemas na área de cibersegurança, a partir do uso do aprendizado da máquina para melhorar a própria proteção da rede. Apesar de acreditar na possibilidade de um modelo autônomo, o cientista afirma que ainda há bastante trabalho a ser feito nesta direção.
“O conceito é muito abstrato. Você vê que existe um esforço para conseguir que, no futuro, as redes se defendam sozinhas. Eles querem acreditar nisso, apesar de isso não ter sido demonstrado ainda. Mas estamos fazendo progressos”, disse.
Willinger afirmou que há três grandes desafios para que seja possível encontrar uma solução para o uso da tecnologia na proteção de redes. “É necessário um esforço enorme neste estudo para entender o que podemos atingir. Temos três atividades importantes que precisam acontecer no campo. Primeiro, precisamos saber monitorar e sentir essa rede. Quais são os dados que estamos coletando e como foram coletados? Depois, como fazemos a inferência? Quanto tempo demora para decidir o que fazer? Hoje, isso pode ser mais automático a partir do aprendizado de máquina. E, por último, como colocamos isso em prática? Que ações devemos tomar com os dados em mãos?”, questionou o pesquisador.
O cientista-chefe da NIKSUN ainda comentou as diferenças entre os modelos black box, predominantes nas empresas, e os sistemas white box. “A maioria dos modelos modernos de aprendizagem funciona no sistema black box, que não informa como coleta os dados. Esse é um problema na área de cibersegurança, porque eles escondem o jogo. Em geral, as empresas são muito relutantes em fornecer informações”, disse.
Para ele, a impossibilidade de acesso pode gerar um problema de credibilidade. “No espaço de cibersegurança, existe um problema de confiança. Se o operador confia no modelo, consegue controlar, acessar e trabalhar com ele, então a confiabilidade aumenta. Como você consegue demonstrar que esse modelo funciona para que outras pessoas possam confiar nele?”, explicou.
Willinger comentou que o uso das tecnologias white box poderia facilitar o entendimento do sistema, ao mostrar claramente a árvore de decisão. “Você pode entender que caminho foi tomado para chegar até o resultado. Isso te deixará mais satisfeito com o modelo, porque entende como funciona e pode interferir, se preciso”, afirmou.
Ainda de acordo com o pesquisador, existem grandes avanços na área. “Há esforços de várias frentes e já temos resultados promissores. Essa noção de como você demonstra que pode confiar em um modelo vai para uma segunda fase de pesquisa. A partir da IA e do ML, podemos desenvolver outras coisas no plano de dados. Isso é algo que não poderíamos fazer há alguns anos atrás”, concluiu.
Deep Techs e Rede Ipê
O painel “Deep Techs e NetRNP Techs: conhecendo e explorando sinergias” foi liderado pelo gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da RNP, André Marins, e pelo assessor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da instituição, José Henrique Dieguez. Tendo como convidados Guy Perelmuter (CEO da Grids Capital), Marcelo de Abreu Borges (CEO da Wisecare) e Eloi Rocha Neto (CEO da Liteme), a sessão demonstrou possíveis aplicações das deep techs em áreas como trabalho, indústria, educação, segurança, além da mudanças climáticas. São tecnologias como inteligência artificial, biotecnologia, impressão 3D, veículos autônomos, nanotecnologia, robótica, entre outras.
Durante a palestra, Perelmuter apresentou mudanças esperadas para o futuro, aceleradas com a pandemia de Covid-19, e afirmou que o progresso se relaciona com esta tecnologia. “Atualmente, temos discussões importantes sobre as profissões que vão durar ao longo das décadas, quais existem hoje e são passíveis de automação e que profissões vão surgir para o futuro. Quando olhamos para o futuro do trabalho, ele tem as deep techs para sustentá-lo. E isso vai transbordar para outras áreas, como a educação, por exemplo”, afirmou.
A programação da manhã contou ainda com a sessão “A rede Ipê: estado atual, perspectivas e desafios”. Mediada por Ari Frazão, diretor-adjunto de Engenharia e Operações da RNP, o painel reuniu Eduardo Grizendi, diretor de Engenharia e Operações; Aluizio Hazin, coordenador de backbone; Janice Ribeiro, gerente de operações, além de James Meyer, CEO da Infobarra (empresa de telecomunicações).
Eles apresentaram a Rede Ipê, presente em todo o território nacional, que oferece acesso à internet para instituições de ensino e pesquisa. Capaz de suportar a transmissão de grandes volumes de dados, a rede é fundamental para o desenvolvimento de projetos científicos e novas tecnologias.