O ano era 2005. A RNP dava início ao Programa Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep), uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), voltada para a implantação de redes de fibras ópticas de alta velocidade em regiões metropolitanas do Brasil, criando uma nova e robusta infraestrutura nacional para comunicação e colaboração em todas as áreas do conhecimento.
A proposta inicial previa ampliar a infraestrutura nacional da rede Ipê, a partir dos 27 PoPs da RNP (26 deles localizados nas capitais) e a qualidade da colaboração na comunidade acadêmica, facilitando e ampliando a divulgação de estudos científicos, a integração entre universidades e unidades de pesquisa e a troca de informações que exigiam grande capacidade de banda. Assim, instituições de ensino e pesquisa participantes da rede teriam acesso mútuo à produção científica, podendo, inclusive, compartilhar projetos de educação a distância.
O programa incluía a implantação das redes com fibras ópticas próprias, equipamentos de rede de alta velocidade (1Gb/s) e um modelo de parceria com as instituições acadêmicas em cada localidade e com os governos estaduais e municipais, além das empresas detentoras dos direitos de passagem para os cabos ópticos. O modelo de gestão administrativa e técnica do programa em cada rede metropolitana estimulava a formação de consórcios para garantir a sua gestão e sustentabilidade.
“O grande desafio era estruturar um projeto desse porte na RNP, que previa não só a participação das instituições acadêmicas em cada rede metropolitano, como a articulação das parcerias com prefeituras municipais, governos estaduais e com as empresas de cada região, entre elas, distribuidoras de energia elétrica, de gás, de processamento de dados, para o uso de sua infraestrutura de dutos e postes, por onde passa toda a rede de fibras ópticas”, conta o diretor de Serviços e Soluções, José Luiz Ribeiro Filho, então coordenador nacional da iniciativa.
A iniciativa Redecomep foi planejada tendo como base o projeto-piloto da rede metropolitana de Belém (PA), a MetroBel, a primeira a operar, em 2007, com fibra óptica própria, voltada para uso acadêmico, com apoio do governo federal. A paraense foi a primeira a fazer parte do programa. Em seguida, foram inauguradas as redes metropolitanas de Vitória, a MetroVix; de Manaus, a MetroMAO; de Florianópolis, a Remep-FLN, e a de Brasília, a GigaCandanga.
“Somente em 2007, quando foram inauguradas as cinco primeiras redes metropolitanas, firmamos parcerias com 15 organizações, entre elas, a Manaus Energia S.A, a Escelsa -Espírito Santo Centrais Elétricas S.A, as Centrais Elétricas do Pará S.A., as Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A, o Centro Universitário do Pará, o Instituto de Estudos Superiores da Amazônia, a Universidade da Amazônia, além dos governos de cada estado e as prefeituras de cada cidade”, destaca José Luiz. “Isso sem contar as 56 instituições participantes das cinco redes: 9 em Belém, 8 em Vitória, 10 em Manaus, 10 em Florianópolis e 19 em Brasília”, enumera.
A inovação também predominou na gestão técnica do programa, principalmente no que se referia ao desenvolvimento e a sistematização dos processos e atividades técnicas sobre uma tecnologia de serviços até então desconhecidos nas práticas de engenharia da RNP. “Em função da quantidade de redes a serem implantadas, foi adotada a estratégia de contratos guardachuva, de abrangência nacional, com aquisição por demanda (equipamentos, cabos e serviços), otimizando o tempo gasto nos processos de compra, o que gerou economias significativas”, lembra a gerente de Engenharia de Redes, Cybelle Oda.
Desde o início, o modelo adotado baseia-se na formação de comitês de gestão formado por representantes das instituições participantes. “Eles participam, contribuindo com o desenho do traçado das redes e também a formulação dos seus modelos de gestão e sustentabilidade. O representante indicado pela instituição líder do comitê fica responsável pela coordenaçãodas atividades administrativas de gestão da rede. A gestão autossustentável assegura a manutenção e operação da rede, reduzindo significativamente as despesas com intraestrutura de telecomunicações para as instituições de pesquisa e ensino superior”, explica José Luiz.
O Programa Redecomep foi dividido em duas fases: a primeira contemplou a implantação de redes ópticas metropolitanas em cada cidade dotada de um PoP da RNP, totalizando as 25 capitais dos estados, Brasília (DF) e Campina Grande (PB). Os recursos alocados foram provenientes da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), a partir de uma iniciativa do MCTI; e a segunda fase consistiu em implantar redes em áreas metropolitanas com Institutos de Pesquisa do MCTI, Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) e Institutos Federais de Ciência, Tecnologia e Ensino Profissionalizante (IFs). As cidades beneficiadas na segunda fase incluíram São Carlos, Ouro Preto e Mariana, Petrolina e Juazeiro, Campinas, Petrópolis e Niterói, todas já em operação.
O ano agora é 2015. O Programa Redecomep comemora dez anos de existência, com excelentes resultados e representatividade em todo o país. A iniciativa é de extrema relevância para a integração entre instituições de ensino e pesquisa, gestores e formuladores de políticas públicas nas unidades federativas. O provimento de infraestrutura avançada em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) representa a capilarização efetiva de uma política nacional comprometida com o avanço da ciência, tecnologia e inovação no país.
Atualmente, o programa está com 39 redes ópticas, implantadas e em operação, nas cinco regiões do Brasil. Esse número inclui 25 redes nas capitais e 14 em outras regiões metropolitanas em seis estados brasileiros.
– Região Norte: RB MetroNet (AC), MetroMAO (AM), Rede Boa Vista (RR), Rede Metropolitana de Macapá (AP), MetroBel (PA), Redes Metropolitanas de Castanhal (PA), de Altamira (PA), de Marabá (PA), de Santarém (PA) e MetroTins (TO).
– Região Nordeste: Rede Metropolitana de São Luís (MA), GigaFor (CE), Rede Poti (PI), GigaNatal (RN), MetroCG (PB), Rede ICTIPB (PB), ICONE (PE), RAAVE (AL), MetroAju (SE), Remessa (BA) e RedeVASF (Petrolina e Juazeiro – PE/BA).
– Região Centro-Oeste: Pantaneira (MT), GigaCandanga (DF), MetroGyn (GO), Rede Metropolitana de Campo Grande (MS).
– Região Sudeste: RedecomepBH (MG), MetroVix (ES), MetroSampa (SP), Rede Rio Metropolitana (RJ), Rede Inconf.Edu (Ouro Preto e Mariana – MG), Rede Sanca (São Carlos -SP), Rede Metropolitana de Campinas (SP), Rede Metropolitana de Petrópolis (RJ), MetroNit (RJ).
– Região Sul: Rede Metropolitana de Curitiba (PR), Remep-FLN (SC), MetroPOA (RS).
Em construção, estão a Rede Metropolitana de Porto Velho (RO) e a Recop, de Pelotas, no Rio Grande do Sul que estão com suas inaugurações previstas para o segundo semestre de 2015. Há também previsão de construção de redes já planejadas nas áreas metropolitanas dos municípios de Itajubá (MG), Uberaba (MG), Uberlândia (MG), Juiz de Fora (MG), São José dos Campos (SP), Santa Maria (RS) e Mossoró (RN), e em estudo de viabilidade encontram-se as redes dos municípios de Volta Redonda (RJ), Sorocaba (SP), São João Del Rey (MG), Bagé (RS) e Imperatriz (MA).
As redes metropolitanas já implantadas possuem mais de 400 instituições consorciadas e mais de 60 organizações parceiras, ultrapassando dois mil quilômetros na cobertura total. As conexões são de, pelo menos, 1 Gb/s entre seus participantes, com algumas já operando a 10 Gb/s. A iniciativa amplia a capilaridade do backbone da RNP, a rede Ipê, que interliga mais de 900 campi de universidades e centros de pesquisa, hospitais universitários e pontos de cultura em âmbito nacional, com velocidade de múltiplos enlaces de 10Gb/s.
“Ao implantar redes de alta velocidade nas regiões metropolitanas, o Programa Redecomep promove a colaboração em projetos de pesquisa e aplicações inovadoras entre as instituições participantes, como, por ex., telemedicina, supercomputação em grid, transferência de grandes volumes de dados, computação em nuvem e videoconferências em alta definição”, afirma José Luiz.
A grande vantagem da iniciativa é a possibilidade de utilização de serviços avançados de comunicação e colaboração com custos reduzidos. As parcerias firmadas viabilizaram o lançamento dos cabos ópticos em infraestrutura existente (postes, dutos, etc.), maximizando o investimento na construção de infraestrutura adicional, e aumentando a capacidade das redes.
“De uma maneira geral, as conexões existentes anteriormente entre as instituições de ensino e pesquisa eram de baixa capacidade, o que dificultava a utilização de algumas aplicações avançadas como transmissão de vídeo em alta definição. O Programa Redecomep supre essa necessidade, oferecendo serviços de rede com capacidade gigabit, interligando as instituições participantes por meio das redes ópticas metropolitanas. A banda larga de fibra óptica não oferece apenas conectividade, mas também diversos serviços avançados como webconferência, videoconferência e telefonia IP (VoIP), entre outros”, explica o diretor de Engenharia e Operações, Eduardo Grizendi.
Destaca-se no Programa Redecomep, a Rede Rio Metropolitana (RJ), a maior rede acadêmica construída em área metropolitana na América Latina. Conecta 51 instituições na cidade, através de 85 pontos e campi universitários. A extensão da rede atinge cerca de 305 km de fibras ópticas em seis anéis, ramais e derivações, usados pela comunidade acadêmica do Rio de Janeiro para apoiar as atividades de educação, pesquisa e desenvolvimento. Os pontos conectados através da Rede Rio Metropolitana possuem velocidade de múltiplos gigabits e capacidade para atingir até 1.9 Tb/s.
Expansão das redes metropolitanas
Um dos resultados do Programa Redecomep que merece destaque é o envolvimento dos governos e empresas em expandir as redes metropolitanas em benefício de todo o Estado, transformando as redes metropolitanas acadêmicas em importantes iniciativas estaduais. Foi assim no Pará, com a implantação do programa de inclusão digital, NavegaPará, que disponibiliza acesso gratuito à internet para milhões de paraenses e tem como meta levar fibra óptica para todas as regiões do estado; no Ceará, com o programa Cinturão Digital, composto por uma rede de fibras ópticas que já cobre 92 dos 184 municípios do estado, onde vivem cerca de 80% da população cearense; e no Rio Grande do Norte, com o projeto Giga Metrópole, criado a partir da expansão da espinha dorsal da rede metropolitana de Natal, a Giga Natal, inaugurada em 2008.
Até o final deste mês de março, os 40 km iniciais serão ampliados em mais 120 km, totalizando 160 km de fibra óptica, o que possibilitará a interligação dos diferentes campi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN) e da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), além de escolas de referência, todos em localidades da região metropolitana de Natal. Além da capital potiguar, a região envolve os municípios de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Ceará-Mirim e Macaíba.
“Essa expansão é muito importante para o IFRN, uma vez que a rede Giga Natal tem fornecido conectividade com qualidade e velocidade compatíveis com as necessidades atuais do instituto. Das 20 unidades que temos em todo o Estado, oito funcionam na região metropolitana de Natal e, atualmente, em qualquer unidade do IFRN, é imprescindível o bom funcionamento dos links de conectividade”, explica o diretor de Gestão de TI do IFRN, Alex Fabiano Furtunato. “Sem uma iniciativa como a da Giga Natal, estaríamos gastando muito mais recursos para obter o mesmo serviço na iniciativa privada”, ressalta.
Na UFRN, instituição-líder responsável pela captação dos recursos que permite a expansão e operação da rede, além da manutenção da sua infraestrutura, a velocidade de conexão é fundamental para que serviços avançados de comunicação possam ser oferecidos em todas as unidades da instituição. “Pesquisas que demandam redes de alta velocidade também poderão ser desenvolvidas em nossos quatro campi do interior. Um dos grandes beneficiados será o campus de Macaíba, onde se encontram o Instituto de Neurociências de Natal e o Instituto do Cérebro, ambos com data centers que necessitam trafegar grandes volumes de dados”, destaca o diretor-superintendente de Informática da universidade, Aluízio Rocha.
Além da expansão, estão sendo construídos 300 km de rede de acesso, para capilarização da rede principal, com derivações que partem de determinados pontos e que chegam a cerca de 350 escolas municipais da Grande Natal. A expansão também permitirá a inclusão futura de postos de saúde e unidades ligadas à segurança pública, como as delegacias.
Outro exemplo de evolução das redes aconteceu no Pará. No último dia 11/2, foi ativado o enlace de transporte de 100 Mb/s da Rede Metropolitana de Castanhal, município do interior do Pará, ao PoP-PA. A rede de 35 km de extensão, inaugurada em fevereiro de 2014, atenderá a comunidade local.
Com a ativação, docentes e discentes do Campus Castanhal da Universidade Federal do Pará (UFPA), instituição líder do consórcio, poderão usufruir de uma transmissão de dados com mais qualidade e rapidez, antes prejudicada por problemas de conexão. “Agora, teremos melhores condições de dar outros passos rumo à sustentabilidade do funcionamento da rede e, ao mesmo tempo, pactuar as condições adequadas para sua manutenção e ampliação dos investimentos” afirmou o presidente do Comitê Gestor da rede, prof. Adriano Sales, também coordenador geral do Campus de Castanhal da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A Redecomep Castanhal está conectada com outras três redes metropolitanas no interior do Pará, nos municípios de Altamira, Marabá e Santarém, e também com a MetroBel. Todas as quatro redes são mantidas pela Empresa de Processamento de Dados do Estado (Prodepa), que também gerencia o programa Navegapará.
Relacionamento com as Redecomep
Recentemente foi reformulada, na RNP, a área de Relacionamento com as Redes Metropolitanas, com a integração dos novos gerentes Takashi Tome (CP) e Cristiane Oliveira (BSB).
A área está desenvolvendo um trabalho de aproximação com os Comitês Gestores (CGs) das redes que compõem o projeto Redecomep, para que a RNP possa promover e incentivar a sustentação das redes a longo prazo. Também estão no escopo de trabalho a articulação de demandas e necessidades entre a RNP e os consórcios; o acompanhamento das ações das áreas de negócios; a promoção da comunidade de redes metropolitanas, por meio da gestão do conhecimento e da colaboração; e o levantamento de informações sobre os consórcios.
No mês passado, em reunião do CG da Rede MetroSampa (SP), foi anunciada a mudança do presidente, após renúncia, por aposentadoria, do prof. Victor Francisco Mammana de Barros, da Universidade de São Paulo (USP). Em seu lugar, assumiu o prof. Milton Kaoru Kashiwakura, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). A vice-presidência do CG será conduzida pelo prof. Jairo Carlos Filho, da USP/PoP-SP. Na ocasião também foram apresentadas as perspectivas de expansão da MetroSampa, que ganhará novo traçado e ampliará dos atuais 145 km para 320 km de extensão. Sete instituições fazem parte da rede: o Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet-SP); o Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas; o NIC.br, a USP; além das universidades Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Federal de São Paulo (Unifesp) e Federal do ABC (UFABC), em Santo André (SP).
Um dos principais projetos beneficiados pela MetroSampa é o da Integração da Capacidade Computacional da Unesp (GridUnesp). Primeiro grid universitário da América Latina, o GridUnesp foi criado para atender à demanda de docentes e pesquisadores por grande capacidade de processamento e armazenamento de dados em áreas como física de altas energias, engenharia mecânica, meio ambiente e geociência.
Durante o ano de 2015, a equipe de Relacionamento com as Redes Metropolitanas organizará uma série de encontros regionais com os gestores das redes, para promover o intercâmbio de informações e buscar soluções para os problemas encontrados. O I Encontro Regional de Redecomep está previsto para ser realizado ainda este mês de março, em Brasília, e reunirá representantes das redes da região Centro-Oeste (DF, GO, MT e MS). Também serão convidados representantes das redes de Belo Horizonte e Tocantins, devido à proximidade geográfica e possibilidade de sinergias.