Confira os destaques do segundo e último dia da 21ª edição do WRNP, que, pela primeira vez em 21 anos, foi 100% digital.
O que você gostaria de saber sobre a Sétima Geração da Rede Ipê?
Hoje a rede acadêmica brasileira é multigigabit, 100% em fibra óptica, e já opera com circuitos de 100 Gb/s, iniciando pelo Nordeste, na rota Fortaleza-Salvador, a partir da parceria com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Mais recentemente, em outubro de 2020, iluminamos a 100 Gb/s os circuitos de Belém-Macapá, e Macapá-Manaus, em conjunto com a Telebras.
Em 2021, estão previstas mais ativações de 100 Gb/s em outras regiões do país, a partir do compartilhamento de infraestrutura tanto com outras empresas de energia elétrica como provedores. O assunto foi discutido no painel “A rede da RNP a 100G”, que abriu o segundo dia do WRNP, com moderação do diretor-adjunto de Engenharia e Operações da RNP, Ari Frazão Júnior, e participação do diretor de Engenharia e Operações, Eduardo Grizendi, do representante da Chesf, Rodrigo Leal de Siqueira, e do coordenador de backbone da RNP, Aluízio Hazin.
“Chegar com 100 Gb/s até a instituição usuária, principalmente fora das capitais, ainda é um desafio para os próximos anos, mas já estamos trabalhando para isso”, afirmou Grizendi.
LIVE Demo: Transmissão de dados a 100Gb/s
Imagine acompanhar o estado da arte em transmissão de dados em altíssima velocidade? No WRNP, foi possível! Na “LIVE Demo: Transmissão de dados a 100Gbps”, Ibirisol Fontes Ferreira, analista de redes do Ponto de Presença da RNP na Bahia (PoP-BA/RNP), realizou ao vivo testes de transferências ponto a ponto com alta latência e em cenários de longa distância. Começando entre Salvador (BA) e Recife (PE), e depois, com mais quilômetros de distância, o teste foi ampliado para além dos limites territoriais brasileiros: entre Salvador e Miami (EUA), chegando a velocidades de até 100 Gb/s.
“A plataforma liga todos esses pontos e a gente consegue fazer esses disparos de testes que servem para validar a capacidade do backbone, como também avaliar a qualidade dos enlaces e a engenharia de tráfego da rede”, explicou Ibirisol.
Na apresentação, o analista de redes resgatou o histórico da iniciativa, que surgiu no segundo semestre de 2019 para demonstrar a capacidade efetiva do backbone, nos enlaces ativos do Nordeste que, na época, formavam o maior conjunto de PoPs ativos a 100Gb/s. Naquela época, houve a implantação dos 100G na região brasileira. “A gente agregou todos os PoPs da RNP nesse grupo de trabalho: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Em um time com vários parceiros internacionais e do Sistema RNP, pensamos, em modelos baseados em plataformas existentes de teste de banda, o que seria essa plataforma de demonstração de 100Gb/s. Partimos de soluções já instanciadas no mercado, como o Speedtest”, rememorou.
Essa transmissão ponto a ponto possibilita “transmitir uma imagem de satélite com colaboração internacional, movimentar bibliotecas usando a capacidade desse link, fazer grande movimentação de dados entre outras parcerias e garantir a qualidade da infraestrutura”, conforme detalhou Ibirisol. A visualização desses testes pode ser conferida na página demo100g.rnp.br Acesse!
Internet Quântica
Teletransporte, qbit, entrelaçamento quântico. Pode parecer filme de ficção científica, mas é Internet Quântica. Este foi o tema escolhido pelo keynote speaker do WRNP, Antonio Abelém, que dispensa apresentações. Professor titular da UFPA e com um currículo extenso na área de redes, Abelém trouxe para o público do WRNP os resultados de sua pesquisa na área na Universidade de Massachussets (UMass).
“Muitos pensam que a internet quântica vai substituir a internet clássica, mas não é bem isso”, ponderou Abelém, destacando o impacto da comunicação quântica por exemplo na área de segurança. “Não à toa a aplicação mais popular em comunicação quântica é a Quantum Key Distribution (QKD)”, afirmou.
Você sabe o que é o qbit? O professor Abelém explica: “na computação clássica, temos o bit, 0 ou 1. No contexto da computação quântica, existe um elemento análogo chamado quantum bit, ou qbit. Ele não fica identificado claramente nem como 0 ou 1, mas uma combinação de ambos, um estado de sobreposição”.
Softwarização de Redes Abertas e Desagregadas: Caminho sem volta? Sim!
Você sabe o que é desagregação de rede? “É a decomposição dos componentes de hardwares e softwares da rede em vários blocos que, agora, podem ser adquiridos de diferentes fabricantes. Você passa a ter acesso às APIs de cada um deles, pode combinar diferentes fabricantes para prover o melhor equilíbrio entre custo e capacidade. Você vai montar seu equipamento da melhor maneira para atender seu requisito”, explicou claramente o professor da UFRJ e assessor técnico-científico da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da RNP, José Rezende, moderador do painel que concluiu que a softwarização de redes abertas e desagregadas, é, sim, um caminho sem volta.
Com o olhar acadêmico, o professor da Unicamp Christian Rothenberg, apresentou as vantagens desse movimento.
“Do ponto de vista da academia, fica mais fácil desenvolver solução, eventualmente, ela vai ser testada numa escala de campus universitário, ou em maiores como o testbed FABRIC e FIBRE. Já temos todos os indícios das barreiras sendo quebradas. Os pequenos players estão crescendo, com grandíssimo potencial de fazer parte desse jogo. A única coisa que fica é uma incerteza. Daqui a cinco anos não vamos ter respostas para os cinco anos à frente. Vai ser muito dinâmico”, projetou o professor.
O especialista de Tecnology Center & Labs da TIM Brasil., João Gabriel Aleixo, levou à luz da discussão o impacto dessas tecnologias abertas e desagregadas para o setor de telecomunicações e apresentou o que tem sido desenvolvido no TIM Lab.
“A Tim Brasil continua forte na abordagem colaborativa, está no nosso viés. Para mim, é um caminho sem volta. É um movimento que tende a ter uma jornada de amadurecimento, mas que vai trazer benefícios para todos os envolvidos”, afirmou Aleixo.
Encerrando a discussão e também acompanhando a opinião dos companheiros do painel, o líder o líder de time técnico da Furukawa Electric, Marcelo Luiz de Souza, falou sobre a desagregação em redes óticas de acesso e suas vantagens.
“Acho que é uma mudança tecnológica, uma quebra de paradigma que não tem como evitar. Os ganhos estão aí e todo mundo quer reduzir custo operacional. Os grandes players não têm mais resistência à tecnologia. É uma questão de tempo”, concluiu Marcelo.
e-Ciência: desafios para fazer o uso dos 100G
Por trabalhar com dados em larga escala, a e-Ciência demanda redes de alta capacidade para o compartilhamento dessas vultuosas bases, permitindo que eles possam ser processados e resultem em conhecimento. Dentro desse contexto, o cientista de redes da RNP, Michael Stanton, moderou o painel que debateu os principais desafios para o uso dos 100 Gb/s e que contou com a participação de Luiz Nicolaci da Costa, diretor-geral do LIneA, Lubia Vinhas, da Coordenação de Observação da Terra no INPE, e Renato Santana, assistente em Ciência e Tecnologia no CBPF.
O especialista da RNP, Alex Moura, abriu os trabalhos mostrando como a organização oferece apoio para a e-Ciência por meio da sua infraestrutura.
“Temos um grande backbone no sentido de apoiar pesquisas científicas colaborativas e temos feito grandes investimentos na capilaridade. Temos participação em acessos através de cabos submarinos com conexão com Europa, África e América do Norte, para oferecer a melhor infraestrutura possível para nossa comunidade”, afirmou Alex.
Na sequência da discussão, cada um dos representantes apresentou as atividades realizadas pelas suas instituições e expôs o quão expressivas são suas demandas por uma rede capaz de sustentar as imensas bases de dados. Por isso, o uso de enlaces a 100 Gb/s se torna cada vez mais urgente.
O debate gerou um consenso com relação à necessidade de uma convergência entre os integrantes do ecossistema de e-Ciência do país para buscar mais investimentos do governo federal capazes de fomentar o upgrade das redes utilizadas pelos pesquisadores.
“O que falta é coordenação. Se nos juntarmos nossas necessidades e a apresentarmos juntos ao MCTI conseguiremos mostrar o grande impacto desses investimentos para o futuro do Brasil, com um projeto a longo prazo”, explicou Nicolaci, diretor geral do LIneA.
O impacto da pandemia na internet brasileira
Para fechar o evento, o painel conjunto com SBRC “O impacto da pandemia na internet brasileira” recebeu três palestrantes, com moderação de Alex Borges, professor e Pesquisador da UFJF. Na oportunidade, os convidados contribuíram com diferentes perspectivas sobre as mudanças observadas no ciberespaço. Alex Moura, especialista em e-Ciência da RNP, falou sobre o aumento da demanda de serviços na RNP e os desafios superados pela instituição para viabilizar entregas de qualidade para a sociedade. “Na RNP, as pessoas se mostraram muito flexíveis para a adaptação para o trabalho remoto. Essa capacidade de mudança foi determinante para superar os desafios, especialmente diante o aumento de demanda sobre os serviços”, argumentou.
Já Leonardo Lins, coordenador das pesquisas TIC Empresas e TIC Provedores do Cetic.br, aproveitou sua apresentação para explorar dados que comprovam mudanças de comportamento dos internautas brasileiros, com destaque para aumento do consumo em e-commerces, fortalecimento do teletrabalho e estabelecimento do ensino remoto. Por fim, Paulo Kuester Neto, analista de Projetos do Ceptro.br, dedicou os minutos finais do painel para esmiuçar sobre a qualidade de internet brasileira, avaliada a partir de diferentes métricas. Nos gráficos apresentados, constatou-se que, no início da pandemia, houve, por exemplo, diminuição na qualidade dos streamings. Ele, no entanto, ponderou: “a internet brasileira teve capacidade de seguir sem maiores tropeços, apesar de a pandemia ter sido algo que nunca vimos antes”.