“Está na hora de levar a sério o imenso problema do consumo de álcool no Brasil, se queremos melhorar a saúde das crianças e dos adolescentes”, declarou a coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Drogas e Violência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), doutora Evelyn Eisenstein, durante a transmissão do Special Interest Group (SIG) de Crianças e Adolescentes, realizado em 9/6. A videoconferência foi viabilizada pela Rede Universitária de Telemedicina (Rute), iniciativa coordenada pela RNP que apoia, implanta e incentiva projetos em telemedicina e possui 57 SIGs em várias especialidades e subespecialidades.
Esse encontro, com o tema ‘Álcool, Jovens e Saúde Pública’, foi conduzido pela doutora Maristela Monteiro, integrante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), de Washington (EUA). O assunto foi abordado para ressaltar os riscos aos jovens que estão crescendo em uma sociedade que favorece o consumo excessivo de álcool, seja pelas propagandas, que muitas vezes aliam o consumo de bebidas alcoólicas a festas, lazer e atividade sexual, seja pelo fato de a cerveja ter se tornado um símbolo nacional.
Para os especialistas que participaram do SIG, o problema é que nem os pais, nem os jovens conhecem a dimensão dos danos causados pelo consumo de álcool, como violência, intoxicações graves, suicídio, homicídio, afogamentos, negligência de crianças, abuso doméstico, mau rendimento escolar e profissional. A longo prazo, ainda podem aparecer dezenas de doenças crônicas, que incluem o câncer de mama, hipertensão arterial, cirrose, cânceres do trato digestivo, neuropatias e a própria dependência.
Dados internacionais e estudos brasileiros apresentados por Maristela apontam que o uso excessivo de álcool não é uma realidade exclusivamente nacional. O consumo de álcool tem aumentado na América Latina, onde a cerveja é a bebida mais consumida e a menos regulada.
A doutora Maristela destacou a necessidade de as associações profissionais, por exemplo, exigirem uma maior regulação do consumo, incluindo o aumento dos impostos e preços, limitação dos horários e pontos de venda, fiscalização sanitária efetiva e principalmente o limite na venda para crianças e adolescentes com menos de 18 anos.
Outro papel importante dos profissionais de saúde é o de orientar os pais, desde os primeiros dias de vida da criança, que álcool também é uma droga e que eles têm um papel importante de supervisionar e orientar os filhos. Isso inclui não consumir álcool em excesso na frente das crianças e adolescentes, evitar a glamourização da bebida e a noção de que quem começa a beber cedo é motivo de orgulho, não oferecer bebidas às crianças e adolescentes ou permitir o consumo em casa e, caso percebam mudanças de comportamento que podem estar vinculadas ao consumo excessivo de álcool, conversar com o adolescente de maneira confidencial e neutra, sem julgá-lo pelo uso.