O Brasil perdeu na manhã desta quinta-feira (15) José Israel Vargas, físico e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, cargo que ocupou durante as gestões de Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco. Nascido em 1928 em Paracatu, no interior de Minas Gerais, Vargas era professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e reconhecido por ter sido um dos formuladores da política de energia nuclear do país, área que sempre defendeu bravamente.
Também exerceu papel ativo em defesa da pesquisa brasileira. Foi presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) de 1991 a 1993 e da Academia Mundial de Ciências (TWAS).
“Nosso país perde hoje José Israel Vargas. Além de sua reconhecida carreira acadêmica no campo das ciências nucleares, deu importantes contribuições às políticas públicas: ocupou, entre outros cargos, o posto de Ministro da Ciência e Tecnologia nos anos 1990. Vargas sempre defendeu a produção e a aplicação do conhecimento científico no Brasil e denunciou corajosamente o obscurantismo que enfrentamos no passado recente. Que Deus conforte os corações de seus familiares, amigos e colegas cientistas”, disse em nota de pesar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao longo de sua trajetória, formou-se químico pela UFMG, estudou física no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e doutorou-se em ciências nucleares pela Faculdade de Física e Química da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. De volta ao Brasil, tornou-se professor da UFMG, onde dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas, e foi assessor técnico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Também foi pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Foi um dos formuladores da política brasileira de energia nuclear no início dos anos 1960.
Na ocasião do golpe militar de 1964, seu laboratório foi tomado pelo exército, e Vargas foi demitido da CNEN e afastado da UFMG. Foi então voluntariamente para a França e lá ficou por quase sete anos, atuando como pesquisador do Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de Energia Atômica, em Grenoble, na França, onde liderou um grupo de pesquisa.
Em sua carreira acadêmica, desenvolveu trabalhos sobre as transformações nucleares nos sólidos observadas por meio das interações hiperfinas. Nesse tipo de interação, a radiação emitida pelo núcleo é usada para descrever o estado do próprio átomo. Seu objetivo era entender o que acontece com o átomo que sofre uma transformação nuclear. Dedicou-se ainda ao planejamento e modelagem de sistemas energéticos.
Na área pública, foi secretário de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e também ministro de Ciência e Tecnologia, cargo que ocupou entre os anos de 1992 e 1999, nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Esteve à frente de realizações relevantes na área, como a expansão e consolidação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Trabalhou também para aprimorar a qualidade da produção nacional, aperfeiçoando o Sistema Nacional da Propriedade Intelectual e a Metrologia e a Normatização.
Ocupou ainda cargos importantes no exterior. Foi membro da Comissão Assessora para as Políticas de Cooperação Intelectual Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e integrou o Conselho do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, onde ajudou a desenvolver projeto para a pesquisa de uma linguagem entre computadores que permitisse a tradução automática de línguas. Vargas também foi embaixador do Brasil na Unesco e presidente do seu Conselho Executivo. Presidiu a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS), atual Academia Mundial de Ciências, por duas vezes.
José Israel Vargas foi um defensor da energia nuclear e crítico do corporativismo na ciência brasileira. Ele deixa três filhas: Cláudia, Joana e Maria Vargas. A Academia Brasileira de Ciências lamenta profundamente a perda desse grande brasileiro e se solidariza à família.
Matéria: Divulgação ABC
Foto: Foca Lisboa / UFMG
Fontes: revista Pesquisa Fapesp, UFMG 90 anos, livro Ciência no Brasil: 100 Anos da ABC