Nota de pesar da RNP

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O fogo levou do Brasil 200 anos de história. Levou o mais antigo esqueleto encontrado nas Américas. Achada em Minas Gerais em 1974, Luzia foi uma das primeiras habitantes do Brasil e mudou as principais teorias de povoamento do continente. O maior tesouro arqueológico do país, que resistiu a 12 mil anos de história, mas não ao fogo que devastou o Museu Nacional. Levou também a paz e comprometeu a vida e os projetos de alunos, pesquisadores e funcionários. Levou a alegria e o encantamento das milhares de pessoas que ali entram todos os dias.

Vinculado à nossa instituição usuária, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o museu é, por si só, um legado. Seu acervo de mais de 20 milhões de itens, mas também suas instalações, o Palácio de São Cristóvão, atestam um pedaço da nossa história. Fruto de uma doação do comerciante de escravos Elias Antônio Lopes ao príncipe regente D. João, em 1808, quando da chegada da família real ao Rio, foi morada desse e de D. Pedro I. Foi lá que foi assinada a Independência e onde ocorreu a primeira Assembleia Constituinte da República.

O último presidente da República a visitar o museu foi Juscelino Kubitschek (1956-1961), conhecido por criar a nova capital, Brasília. À época, ele disse que “o Brasil não sabe da grandeza, da riqueza disso aqui (do museu). Se soubesse, não deixaria chegar neste estado”.

Após realizarmos a nossa sétima edição do Fórum RNP, que teve como fio condutor palestras sobre patrimônio cultural e memória, vemos com pesar o incêndio de grande vulto que consumiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.

Esperamos que essa tragédia sirva de linha divisória para que as instituições e pessoas que trabalham pela preservação e uso de nosso patrimônio histórico brasileiro e do desenvolvimento do ensino, da pesquisa e de sua divulgação à sociedade, sejam atendidas e amparadas em sua missão.

Nelson Simões

Diretor-geral da RNP

Crédito da imagem: Museu Nacional / UFRJ