Em 2012, antes do início do projeto ELCIRA (Europe Latin America Collaborative e-Infrastructure for Research Activities), a América Latina era uma região do planeta que carecia de ações de gestão de identidade e de serviços que permitissem a mobilidade de seus usuários, como o eduroam. O Brasil era o único país dotado de uma federação de identidade, a CAFe, o que dificultava a pesquisa colaborativa entre latino-americanos e sua interação com pesquisadores de outros continentes. O eduroam, serviço de rede sem fio de acesso seguro, ainda estava em fase experimental no país.
Dois anos depois, a comunidade acadêmica local já pode perceber profundos avanços em direção a uma maior integração regional, graças ao projeto ELCIRA, que incentiva o desenvolvimento de serviços e ferramentas colaborativas entre a América Latina e a Europa. A RNP coordena dois pacotes de trabalho fundamentais no projeto, um que desenvolve as federações de identidade nas redes acadêmicas latino-americanas e, consequentemente, a sua adesão ao serviço de federação europeu, o eduGAIN (GÉANT), e outro que visa expandir a rede eduroam. Além disso, ainda está envolvida em criar uma rede de confiança entre sistemas de videoconferência entre as duas regiões.
A RNP foi responsável por resultados significativos na disseminação do conceito de federação de identidade na América Latina, principalmente por esse serviço ser condição essencial para a implantação do eduroam. O Chile e a Colômbia lançaram as suas primeiras federações de identidade, a COFre e a COLFIRE, e outras duas federações estão em fase piloto no Peru (Inca Federation) e na Argentina (MATE).
Segundo o diretor executivo da rede colombiana RENATA, Lucas Giraldo Ríos, a implantação da COLFIRE e do eduroam significaram um grande avanço tecnológico para a Colômbia, tanto para os pesquisadores do país, que encontram conectividade em viagens nacionais e internacionais, quanto para a melhor recepção de parceiros estrangeiros. “A RNP, com pelo menos 20 anos de funcionamento e cerca de 800 instituições conectadas, é a principal rede acadêmica da América Latina. Sua experiência e apoio em projetos distintos têm sido de importância vital para nossa corporação”, avalia.
Além da disseminação do conceito de federação e do aumento da capilarização do eduroam, a RNP também desenvolve e organiza cursos presenciais e online para representantes das redes acadêmicas da região. Uma das que está se beneficiando diretamente dessa capacitação é a rede do Equador, CEDIA, que tem atualmente um provedor de identidade em funcionamento e trabalha para ter sua primeira universidade conectada. “Depois de ter instalado o primeiro ponto de eduroam no Equador, foi iniciada uma campanha interna para apoiar as universidades que desejam se integrar ao projeto. Como parte dessa campanha, foi realizado um curso online com vídeotutoriais que começaram a produzir resultados”, conta o diretor da CEDIA, Cláudio Chacón.
De acordo com o diretor-adjunto de Gestão de Serviços, Antônio Carlos F. Nunes, nos últimos oito meses de projeto, além da consolidação das ações em andamento, a RNP avalia a possibilidade de implementação e oferta de provedores de identidade (IdP) em nuvem, a partir de infraestrutura provida pela Cooperação Latino-Americana de Redes Avançadas (RedCLARA), em conjunto com a rede italiana, GARR, pretende evoluir o modelo de monitoramento do eduroam mundial, em parceria com a rede espanhola, RedIRIS, e criar um comitê regional do eduroam na América Latina.
Maior cobertura e mobilidade no Brasil
Além do maior número de comunidades federadas, o eduroam teve um crescimento expressivo na América Latina, no período de dois anos, e atualmente contabiliza 1139 pontos de acesso. Desses, o Brasil abriga a grande maioria, 939 pontos, distribuídos em 23 instituições conectadas nas cinco regiões do país.
Em 2014, entrará em execução o primeiro projeto de levar o eduroam para além dos limites acadêmicos. A Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa) demonstrou interesse em disponibilizar pontos de acesso eduroam em locais públicos da capital gaúcha, como praças e outros lugares de grande circulação, aproveitando a sua própria plataforma wi-fi, experiência essa já amplamente utilizada na Europa e na Austrália. Os primeiros testes já foram realizados e a previsão é de que o serviço entre em produção em Porto Alegre ainda este ano.