“Nossa identidade, que deveria nos definir no mundo digital, é totalmente fragmentada. Temos diversas identidades, logins e senhas dadas por instituições, mas quando saímos delas, perdemos essas informações. E esses dados são monetizados por essas organizações sem participação nossa”. O alerta foi dado pela diretora do Instituto de Computação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Fabíola Greve, na abertura do painel Web Descentralizada e Imersiva, realizado no segundo dia do 24º WRNP.
Fabiola foi mediadora do debate que contou com a participação do professor adjunto da Universidade Federal de Goiás (UFG), Eliomar Araújo de Lima; do pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), Fernando Marino; do co-fundador do BrasilNTF, Luciano Vassan; e do empreendedor Carl Amorim.
Na Web Descentralizada, conhecida como Web 3.0, serviços e conteúdos não estão sob controle de entidades. Por isso o nome descentralizado. Os usuários têm mais controle sobre suas informações pessoais e maior transparência ao usar esses dados. No modelo de internet atual, chamado de Web 2.0, essas informações são administradas por algumas empresas de tecnologia.
Eliomar Araújo abordou pontos que precisam ser trabalhados para se chegar a esta nova geração de internet. “O desenvolvimento de infraestrutura de comunicação e computação e padronização dos sistemas e componentes são grandes desafios. O próprio interesse do usuário, com foco na mudança de mentalidade, acaba sendo um fator determinante para que a Web 3.0 possa ser efetivamente adotada”.
Um dos pilares dessa terceira geração da internet é o blockchain, um tipo de banco de dados público que não é controlado por nenhuma entidade. “O blockchain permite que você consiga fazer transações diretas. Ele oferece meios fundamentais para que esse universo descentralizado aconteça”, explicou a diretora do Instituto de Computação da UFBA.
Futuro é descentralizado
Outro ponto discutido foi a identidade digital descentralizada e autossoberana (IDD), estrutura de dados pessoais que permite o armazenamento e validação dessas informações. Assim os serviços podem ser usados apenas com uma autenticação.
Para Fernando Marino, o modelo é um grande avanço, já que o atual com um cadastro por plataforma não é algo natural. “No mundo digital nós somos os nossos dados. E é muito preocupante quando entendemos que essa representação não está sob nosso poder. O tempo todo estamos nos cadastrando, nos registrando. Isso cria uma profusão de dados. Nos acostumamos com essa rotina de preenchimento de formulários e cadastros, mas acabamos nos acostumando mal”.
O painel também tratou da tokenização, tecnologia muito utilizada pelo mercado financeiro. Consiste em transformar ativos físicos em digitais, um procedimento que pode ser feito para obras de arte, ativos em empresas, imóveis e muitos outros. “O token é registrado dentro uma blockchain e passa a ser um criptoativo. Praticamente qualquer coisa pode ser transformada em token”, afirmou Luciano Vassan, que lembrou ainda que a tecnologia é essencial para a nova geração da internet. “O tema é fundamental para chegarmos numa Web Descentralizada, algo que ainda não temos hoje”.
Carl Amorim falou sobre organizações autônomas descentralizadas, as chamadas DAOs. Nesse modelo, as organizações são administradas de maneira diferente da tradicional, com regras definidas por uma comunidade online através de um token. Qualquer pessoa que adquira esse token pode participar da tomada de decisões.