Redes ópticas avançam para o interior do sertão pernambucano

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- 24/03/2017

De um lado, Pernambuco. De outro, a Bahia. Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) são cidades vizinhas, separadas apenas pelo Rio São Francisco. Graças ao desenvolvimento da agricultura irrigada no Semiárido, a região é um dos maiores polos de produção e exportação de frutas do país, com destaque para os cultivos de manga e uva. Unidas pela atividade econômica, as duas cidades também compartilham uma rede de fibra óptica de alta velocidade, a rede metropolitana do Vale do São Francisco (Redevasf), que avança em direção ao interior do sertão pernambucano, beneficiando o ensino e a pesquisa e, consequentemente, o desenvolvimento econômico no meio rural.

Implantada pela RNP, a Rede Metropolitana do Vale do São Francisco (Redevasf) faz parte do Programa de Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep) e foi a primeira rede óptica entre dois estados brasileiros, inaugurada em dezembro de 2014. Ao todo, é formada por 90 km de fibras ópticas e interliga 13 instituições, entre elas universidades públicas, Institutos Federais e hospitais universitários. O ponto de apoio da RNP está localizado no campus principal da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), de onde a rede se conecta em 1 Gb/s ao Ponto de Presença da RNP em Recife, e, assim, à rede acadêmica nacional.

Em fevereiro de 2017, a RNP firmou uma parceria com o provedor de internet local Natel, para manutenção da rede, em troca do uso de um par de fibras.  Além da manutenção, a Natel se comprometeu a conectar, por fibra óptica, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido, que fica a 42 km do centro de Petrolina. Esse foi o primeiro acordo da RNP para permuta de fibra por manutenção dentro do Programa Redecomep. Dessa forma, o provedor de internet local se responsabiliza pela manutenção da rede, em troca do uso do par de fibra da RNP na rede metropolitana.

Antes de se conectar à Petrolina, a Embrapa Semiárido chegou a ser atendida por um link de 2 Mb/s vindo de Campina Grande (PB). Depois, veio a conexão por rádio a 50 Mb/s. Hoje, conectada por fibra óptica a 1 Gb/s, a mudança foi significativa na qualidade do acesso à internet. As atividades de pesquisa foram as principais beneficiárias, o que permitiu que os pesquisadores do Semiárido pudessem participar de reuniões de trabalho com outras unidades da Embrapa e interagir com outras instituições.

Segundo o pesquisador do núcleo de agricultura irrigada da Embrapa Semiárido, João Ricardo Lima, com a nova conexão, duas dissertações de mestrado foram defendidas a distância, de Petrolina até o polo digital de Caruaru (PE), a 580 Km. “Até recentemente, era algo inimaginável. Com a dificuldade de orçamento para participar de bancas de fora da cidade e do estado, às vezes preferíamos nos conectar de nossas próprias residências”, conta Lima.

A unidade da Embrapa tem sua atuação voltada para a sustentabilidade da agropecuária no Semiárido brasileiro, onde, devido aos fatores climáticos e naturais do bioma Caatinga, a pesquisa tem papel fundamental para o desempenho da produção agrícola, que depende da chuva e da agricultura irrigada. A estabilidade de internet é necessária para a transferência de dados de sequenciamento genético de plantas, por exemplo, que precisam ser analisados em outra unidade da Embrapa, de Informática Agropecuária, que fica em Campinas (SP).

Outra instituição que está conectada à Redevasf é o campus Petrolina Zona Rural do Instituto Federal Sertão Pernambucano, a 30 km do perímetro urbano. Segundo o gestor de TI do IF-Sertão, Francisco Hamilton, antes da chegada da fibra óptica a região só conseguia contratar links por rádio. “Pela própria topologia da zona rural, formada por morros, o sinal de internet por rádio nunca era o suficiente”, conta.

O campus da zona rural de Petrolina oferece cursos técnicos e de nível superior na área de ciências agrárias para aproximadamente 1,2 mil alunos. A instituição é a única do Nordeste a ofertar um curso tecnológico de nível superior em viticultura e enologia, que forma profissionais para a produção de uvas finas de mesa tendo como finalidade vinhos, sucos e espumantes. “Os alunos desenvolvem trabalhos para a melhoria da qualidade do vinho. Muitos atuam como enólogos e sommeliers, em vinícolas do Nordeste e no Rio Grande do Sul”, revela a diretora do IF-Sertão Petrolina Zona Rural, Jane Perez.

De acordo com ela, o campus também oferece cursos de pós-graduação em fruticultura no Semiárido e processamento de produtos de origem animal. Ainda mantém um centro vocacional tecnológico em agroecologia, que estimula pequenos produtores e a agricultura orgânica. “A conexão da RNP melhorou o acesso à pesquisa, reduziu o congestionamento de internet e também favoreceu o trabalho interno. Hoje, já utilizamos a webconferência entre o nosso campus e a reitoria”, avalia Perez.

Segundo a Embrapa Semiárido, o polo Petrolina-Juazeiro é responsável por quase 100% das exportações brasileiras de uvas finas de mesa e por 85% exportações de manga, destinadas aos mercados europeu e americano. No ano de 2014, as exportações dessas duas frutas somaram 141 mil toneladas, o que gerou receitas de mais de 200 milhões de dólares e um total de 240 mil empregos diretos e indiretos. A demanda fez com que a empresa norte-americana Amazon Produce Network, que importa frutas brasileiras para o consumo nos Estados Unidos, estabelecesse uma parceria com o IF-Sertão Petrolina Zona Rural para recrutar alunos para o seu Programa de Estágio, com foco na etapa de pós-colheita.

Após a assinatura do acordo de cooperação técnica do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) com o governo de Pernambuco em março, a expectativa é expandir a capilaridade da rede acadêmica da RNP para o interior pernambucano, utilizando as infraestruturas já existentes de provedores regionais e parceiros do setor elétrico. O maior deles é a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), que soma 20 mil km de linhas de transmissão próprias. Dessa forma, é possível chegar, com conexão em alta velocidade, em escolas de educação básica e outros institutos de ensino estaduais e integrá-los ao restante do país.

Sobre a Redecomep

O Programa de Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep) visa expandir a infraestrutura de redes avançadas nas capitais brasileiras e grandes cidades do interior, para o desenvolvimento de pesquisas científicas e a integração de universidades e centros de pesquisa ao Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Dessa forma, o programa contribui para promover a democratização do acesso à informação e ao conhecimento.

As redes metropolitanas constituem um patrimônio de alto valor agregado, fruto da aplicação de recursos públicos em apoio ao desenvolvimento do sistema nacional de CT&I, e inserem o país no cenário mundial de experimentação de redes ópticas de alto desempenho, oferecendo condições de igualdade aos pesquisadores brasileiros em projetos colaborativos internacionais.

Legenda das fotos:

Foto 1: Fernanda Muniz Bez Birolo / Embrapa Semiárido.

Foto 2: Divulgação IF-Sertão Pernambucano.

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