UFSC usa experimentação remota como ferramenta de apoio à educação
Quando a professora Karine Coelho, da Escola Balneário Arroio da Silva, em Santa Catarina, precisa ensinar plano inclinado, propagação de calor, circuitos elétricos ou outra matéria do currículo de física para o ensino médio, seus alunos têm acesso não apenas à teoria, mas também a experimentos práticos que reforçam o conteúdo dado em sala de aula, ao alcance do celular.
Pela ferramenta desenvolvida pelo Laboratório de Experimentação Remota (REXLab) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), estudantes podem realizar experimentos reais em estruturas físicas controladas remotamente, coletar informações, verificar resultados, comparar com colegas, tudo isso pela internet, em um ambiente de aprendizagem acessado por dispositivos móveis.
Segundo a professora Karine, diferentemente da simulação, o experimento remoto reproduz um laboratório de ciências presencial. “Alguns desses experimentos, como o painel elétrico, são difíceis de realizar na escola, demandam tempo do professor e bastante investimento. Diante da falta de instrumentos e de um laboratório adequado, a melhor solução já estava nas mãos dos alunos”, comenta.
A busca por recursos que atendessem à rede pública de ensino de Santa Catarina é uma das motivações do RExLab, criado em 1997 pelo professor João Bosco, da UFSC. De acordo com o atual coordenador do laboratório, Juarez Bento da Silva, apenas 8% das escolas públicas no Brasil dispõem de um laboratório de ciências. “Queremos desenvolver alternativas e soluções de baixo custo para educação, com foco na questão da inclusão”, afirma.
Para que a experimentação remota fosse adotada nas escolas públicas, foi preciso investir em conteúdos didáticos abertos, para que professores, alunos e interessados pudessem contribuir para a evolução da plataforma. Para isso, o RExLab lançou o projeto inTecEdu, para capacitar professores nessa nova tecnologia e ensiná-los a desenvolver seu próprio conteúdo e a integrá-lo nos seus planos de aula. Foram selecionadas quatro escolas de educação básica e uma de ensino técnico, onde os professores fizeram um curso semipresencial, com certificação emitida pela UFSC. Como resultado, o inTecEdu certificou 272 docentes e envolveu aproximadamente 5 mil alunos.
Nas escolas de educação básica, foram organizadas classes específicas de acompanhamento nas disciplinas de Física, Química e Matemática. Nessas turmas, 16 docentes desenvolveram seus planos de aulas com o auxílio da experimentação remota e avaliaram o desempenho de 800 alunos, pelo ambiente virtual de aprendizagem. Depois, era feita uma pesquisa de percepção do tipo de carreira que o aluno pretendia ingressar. Os dez protótipos de experimentos dessa etapa foram submetidos a avaliações de especialistas no Brasil e do exterior, que contribuíram para a sua evolução.
Para a professora Karine, que participou de uma dessas turmas, a tecnologia da UFSC tem despertado o interesse dos alunos, que nem sempre apreciam as disciplinas conhecidas como STEM – de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. “Os alunos são muito curiosos, querem passar de um conteúdo para outro, e adoram mexer com seus celulares. Isso desperta uma curiosidade muito grande”, ela relata. “Quando ensinamos eletricidade, por exemplo, parece que é tão abstrato, eles não conseguem perceber um resistor, ou qual é a distribuição de uma corrente. A experimentação remota tem contribuído, e eles estão começando a olhar para essas áreas de forma diferente”, avalia.
Em 2014, o RExLab teve uma proposta aprovada pelo Programa de Grupos de Trabalho da RNP temáticos em educação a distância, com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A proposta do GT-Experimentação Remota Móvel (GT-MRE) era a de uma plataforma para o gerenciamento de experimentos remotos, o Relle, acessível pelo ambiente virtual de aprendizagem Moodle e também por dispositivos móveis. “Queríamos dar um salto de qualidade e profissionalizar esses experimentos com uma plataforma mais consistente e de baixo custo”, aponta Juarez.
Hoje, o RExLab está envolvido em parcerias com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) para cursos de Licenciatura em Física na Universidade Aberta do Brasil (UAB), portal mantido pela Capes. Com a adesão de outras instituições, a expectativa dos pesquisadores é de aumentar a disponibilidade da plataforma e transformá-la em um serviço com acesso federado.
Em 2011, a atuação do laboratório junto às escolas públicas de Santa Catarina recebeu o reconhecimento do Programa Frida, que financia iniciativas inovadoras em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O fundo regional criado pelo Lacnic visa reconhecer projetos que tenham contribuído, de forma concreta, para o desenvolvimento social e econômico da América Latina e do Caribe. Em 2016, o laboratório concorre mais uma vez como iniciativa inovadora.