Infraestrutura é um dos principais desafios da telessaúde no Brasil, afirma Luciana Portilho (NIC.Br)
A pandemia da Covid-19 acelerou a digitalização de diferentes esferas da vida. E na saúde não foi diferente. Dados do Painel TIC Covid-19, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), mostram que, em 2019, 82% das Unidades Básicas de Saúde tinham acesso à internet e, em 2020, eram 92%. Ainda assim, o percentual de estabelecimentos que adotam a telessaúde no Brasil não chega nem a 30%, e existem muitos desafios para garantir a ampla disponibilização e adoção do serviço no país, apontou Luciana Portilho.
Na sessão "Telemedicina no Brasil: a transformação digital na saúde", nesta segunda-feira (23), durante o 23º WRNP, a doutora em desenvolvimento econômico pela Unicamp e coordenadora da pesquisa TIC Saúde apresentou um panorama do avanço do setor no país, tanto da perspectiva da oferta dos estabelecimentos quanto da demanda dos pacientes. A mediação foi de Paulo Lopes, doutor em ciências pela Unifesp e especialista em saúde na RNP.
Com a regulamentação da teleconsulta, instituída no Brasil em 2020 com a chegada da pandemia, o serviço passou a ser adotado por 18% dos estabelecimentos de saúde nacionais. Apesar do crescimento, existem gargalos que dificultam a informatização da área, principalmente no acesso a infraestrutura necessária para o funcionamento.
“A gente vê que tem extratos que têm maior percentual de estabelecimentos com velocidades (de internet) mais altas. Principalmente nos estabelecimentos privados, da região Sudeste. Boa parte dos estabelecimentos públicos ainda têm acesso a velocidades menores. Esse é um ponto de atenção para melhorias na infraestrutura disponível que pode impactar no uso do serviço de telessaúde em geral”, comentou Luciana.
Outro ponto sensível ao avanço da telemedicina é a falta de oferta de dispositivos confiáveis para a realização das consultas online, destacou a pesquisadora. “Entre os usuários que realizaram consultas online, 59% fizeram por meio de aplicativos de mensagem. (...) 58% das pessoas que não realizaram teleconsulta não o fizeram porque se preocupam com a segurança de seus dados pessoais. Estes resultados podem indicar uma falta de oferta de meios adequados para consultas online, que estejam baseados em marcos legais e que garantam segurança e privacidade dos dados do paciente.”
Luciana destacou o papel fundamental que a RNP tem desempenhado na solução destes gargalos, tanto com a disponibilização de recursos e instrumentos, quanto com o surgimento do comitê técnico em saúde digital lançado em 2021. “A RNP tem agregado muitas ideias diferentes sobre o futuro dessa área, colocando isso de um jeito mais formalizado”, frisou.
Lopes ressaltou que um artigo publicado recentemente na Folha de S.Paulo por pesquisadores do grupo Sou Ciência apontou que 59% das universidades federais declararam ter atuado fortemente no avanço da telessaúde, com a instauração de novos centros e sistemas em parcerias como laboratórios de tecnologia, prefeituras, governos estaduais e com o Sistema único de Saúde (SUS).
Outro destaque da programação desta segunda-feira (23) do 23º WRNP foi a sessão dos Grupos de Trabalho do Programa P&D Serviços Avançados, moderada pelos coordenadores de P&D da RNP Rafael Valle, Clayton Reis e Fausto Vetter. Ao abrir a seção, Valle destacou que boa parte da história de inovação da RNP está ligada ao GT, lançado em 2002. “Um diferencial do nosso programa sempre foi ter um acompanhamento muito próximo, com reuniões e relatórios, com o objetivo de ter um resultado mais satisfatório para a RNP e toda a nossa comunidade”, disse.
A seção contou com palestras apresentação dos projetos de Cesar Augusto Cavalheiro Marcondes (ITA), Cristian Cechinel (UFSC), Rubens Martins Pereira (Startup Engenharia do Cuidado), Eduardo Lázaro Martins Naves (UFU), Michele Nogueira Lima (UFMG), Fabíola Gonçalves Pereira Greve (UFBA), Rafael Ferreira Leite de Mello (UFRPE) e Dianne Scherly Varela de Medeiros (UFF).
Representando o GT Engenharia do Cuidado, plataforma que quer facilitar a comunicação e o compartilhamento de informações com segurança entre equipes de saúde e pacientes, Rubens Martins Pereira, da startup Engenharia do Cuidado, parabenizou a RNP pela forma como conduz os grupos de trabalho. “Essa forma de começar projetos de inovação é o sonho de todo mundo que trabalha nisso”, disse Pereira, que elogiou a interatividade do processo de validação do MVP (produto mínimo viável, em português).