Mulheres nas TIC: profissionais encorajam outras mulheres a ocuparem seus espaços em tecnologia
Embora a história nos mostre que grandes feitos tecnológicos ao longo dos anos e ao redor do mundo tenham sido conquistados e descobertos por mulheres, ainda hoje dar voz e espaço para o público feminino na área da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é um desafio.
Tal assunto foi tema de um dos painéis realizados por mulheres que escolheram as exatas como profissão e, que durante o Fórum RNP 2020, debateram suas trajetórias e os pontos em comuns que tiveram, como as barreiras culturais e sociais de um ambiente majoritariamente masculino.
Desta forma, hoje propomos a reflexão com as falas destas mulheres que fazem parte de uma (ainda) pequena parcela de especialistas que desejam estimular e transformar a visão cultural e estrutural de gênero dentro deste cenário.
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TIC: “uma área tão carente da presença feminina”
Carla Pires, diretora de TI do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-riograndense (IFSul), iniciou sua fala no painel com uma frase-chave: “O setor de TI é uma área tão carente da presença feminina”. A moderadora do painel expôs dados que embasam não apenas o cenário atual, como refletem a jornada de muitas mulheres, tanto acadêmica quanto profissional: apenas 29% das vagas nos cursos na área de tecnologia são ocupadas pelo público feminino.
Apesar dos dados que soam de forma desanimadora, o painel teve como objetivo contou com a participação da analista de TI do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Edna Mattos; a ex-diretora do CPD da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jussara Musse; e a diretora de PD&I da RNP, Iara Machado, para estimular uma nova forma de prestigiar e oportunizar a participação deste público na área das TIC.
“Por que a Tecnologia não é uma área de meninas?"
Iara Machado desde os 15 anos já estudava algoritmos, programação e tinha um amor pela matemática. Foi no 2º grau que optou pelo curso de Processamento de Dados, por volta de 1971. Ao longo da sua carreira, ao estudar física na UFRJ, o cenário acadêmico à remetia ao questionamento sobre a questão cultural relacionada à presença de mulheres na área. “Por que a tecnologia não é uma área de meninas?”.
Como resposta, os dados ainda nos revelam que apenas 9% das mulheres possuem carreira de TI em Universidades e Institutos Federais. Já em cargos de coordenação e direção são apenas 15%, onde destes, nas posições estratégicas e de liderança, como a Gestão, o número cai para 2%. “Elas não fazem parte do processo de tomada de decisão”, ressalta Carla.
Outros números debatidos ao longo do painel têm relação aos Pontos de Presença da RNP. Ao longo de 20 anos, conforme a pesquisa apresentada por Carla, apenas 6 a 7 mulheres estiveram presentes. Atualmente, são três colaboradoras. “É necessário praticar essas mudanças”, conclui Carla.
Iara Machado é a diretora de PD&I da RNP e, embora o número de funcionárias mulheres seja abaixo do esperado, em cada processo seletivo, ela comemora. “O ambiente hoje já é um pouco menos tenso, pesado. Mas ainda existe bastante discriminação. Tem muitos homens que me apoiaram durante minha trajetória, que me empoderaram e me deram oportunidades. Mas eu acredito que é um trabalho coletivo, tanto de homens quanto de mulheres, para que não haja discriminação, nem preconceito. Acho que estamos caminhando para isso”.
“Nesses meus 25 anos que estou no Governo Federal, 21 foi ocupando cargos de gestão. Durante toda essa trajetória, eu, na maioria das vezes, era a única mulher do grupo”.
Edna Mattos, analista de TI do Instituto Federal da Bahia (IFBA), compartilhou muitas histórias marcantes e de luta ao longo da sua carreira profissional. Onde no início sofreu com a discriminação de gênero, classe e de raça. “A área de Tecnologia da Informação ela é, e continua sendo, uma área que é de homens, de pessoas de classe mais abastada e é de brancos. Então, para mim, mais claro naquele momento de estar sendo discriminada por ser mulher, era estar sendo discriminada porque eu era negra”, relembra.
Mas para uma mulher sonhadora e forte, Edna conseguiu ano após ano superar os desafios sociais e conquistou uma carreira de renome e cheia de significados, sendo em diversas vezes, a única e/ou a primeira mulher a realizar tal feito ou título. “Eu faço parte do grupo das primeiras pessoas a ocuparem cargo de Analista de Sistemas nas escolas Agro Técnicas Federais, também sou a primeira analista de sistemas do IFBA, onde eu cheguei em 1998 através de uma redistribuição. No IFBA por 13 anos consecutivos fui a responsável pelo setor de TI, onde eu me empenhei muito na sua restruturação e, principalmente, na sua valorização”.
Edna também participou da criação do Fórum de Gestores de Tecnologia da Informação dos Institutos Federais de Educação (Forti), do qual foi presidente por 10 anos, e tem hoje Carla Pires como coordenadora. Recentemente foi diretora do campus do IFBA, na cidade de Santo Antônio de Jesus, onde concluiu sua gestão em 2019, deixando em funcionamento, três cursos superiores na área de TI.
Ao relembrar sua trajetória, Edna ressalta, “nesses meus 25 anos que estou no Governo Federal, 21 foi ocupando cargos de gestão. Durante toda essa trajetória, eu, na maioria das vezes, era a única mulher do grupo”.
“Nós, como gestoras, temos que prestigiar as mulheres que trabalham conosco”.
Jussara Musse foi fundadora do CGTIC-Andifes, Colégio dos Gestores de TIC das Instituições Federais de Educação Superior. “Graças a uma reitora mulher me tornei a primeira e até hoje, a única diretora do CPD da UFRGS”, comenta.
A carreira de Jussara também passou por muitos desafios e discriminações, como ela mesmo pontua, “ou eu ia embora, ou eu resolvia lutar”. E sua luta deu tão certo que ela foi a primeira oradora do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Há 40 anos era difícil, muito difícil, agora continua sendo difícil”, lamenta.
Porém, apesar de todas as dificuldades apresentadas no painel, o encorajamento na fala de cada uma reforça a necessidade de darmos continuidade em uma transformação que atinge o ambiente público e privado. “Nós temos que incentivar as mulheres a trilharem carreira na gestão, porque com os números que a Carla falou, é escandaloso. Nós somos quase 10% das vagas de TI das instituições públicas, mas ocupamos 2% das vagas de gestão. Então, o funil é muito grande e nós temos que ampliar isso. Nós, como gestoras, temos que prestigiar as mulheres que trabalham conosco”, complementa Musse.
Mulheres Exatas
E, além da troca de experiências, dificuldades, desafios e discriminações, estas mulheres sabem que quando juntas, para além das exatas, as barreiras podem ser disruptivas para um novo futuro. Assim, se você deseja saber mais ou expor a sua voz neste cenário, você está convidada a participar do grupo no Facebook “Mulheres Exatas” ou a juntar-se no grupo do WhatsApp (19) 99121-1714.
Para quem deseja assistir ou relembrar o debate no Fórum RNP 2020, confira ao vídeo no nosso Canal do YouTube.