Presidente da SBPC fala da realidade e dos desafios da ciência brasileira
O Brasil está em 69º lugar no ranking das economias mais inovadoras do mundo, de acordo com o Índice Global de Inovação 2016. Lançado recentemente pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), a pesquisa avaliou 128 países e mostrou que, mesmo ficando em oitavo colocado em porcentagem de transferência tecnológica e em 17º nos gastos em P&D das grandes empresas, nosso país ainda continua afastado dos grandes players globais em inovação, principalmente pela baixa taxa de transformação de pesquisas em aplicações comerciais.
Em participação no Fórum RNP, realizado entre os dias 8 e 11/11, a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, apresentou a realidade e os desafios da ciência brasileira, com base nessa pesquisa. Veja abaixo a análise da presidente sobre o papel do Brasil no cenário de P&D mundial.
Quais são os principais pontos fortes da ciência brasileira quando se fala em inovação?
Quando houve investimentos permanentes e estruturados em P&D, a ciência brasileira mostrou excelentes resultados em inovação. O Brasil tornou-se líder mundial em detecção e prospecção de petróleo em águas profundas. Os investimentos em educação e ciência com a criação do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) levaram ao crescimento da engenharia aeronáutica, colocando a Embraer como terceira maior fabricante mundial de aviões. No agronegócio, o Brasil é líder mundial na produção e exportação de grãos, incluindo soja, frutas tropicais, além de um dos principais exportadores mundiais em pecuária e avicultura. Outro exemplo mais recente foi a resposta da ciência brasileira ao diagnóstico e relação do vírus da zika com a microcefalia em fetos de mães infectadas, bem como produção de vacinas, incluindo a do vírus da dengue.
E os principais problemas enfrentados?
Ciência, tecnologia e inovação no país enfrentam muitos problemas, que vão desde o financiamento até a falta de compreensão dos marcos regulatórios, tanto pela sociedade civil quanto pelos órgãos de controle. Hoje temos um novo marco legal, que poderá impactar positivamente a agenda de CT&I, sobretudo no relacionamento entre o setor público e privado, entre universidades, instituições de pesquisa e empresas com base tecnológica. O financiamento às atividades de P&D no Brasil além de ser instável, encontra-se em um patamar muito baixo: cerca de 1,05% do PIB, quando deveria estar próximo de 2%, como ocorre em países de economia semelhante à brasileira. Ainda, há necessidade de uma política robusta que articule o desenvolvimento científico e tecnológico com o industrial.
De que forma podemos tentar resolver essas questões para o Brasil inovar mais?
Não basta haver esforços enormes da academia e da indústria para projetos em colaboração. Precisamos ter uma política de desenvolvimento que defina os setores em que queremos crescer e quanto vamos precisar de investimentos para isso. Já foi assim com o petróleo, a aeronáutica e o agronegócio. E esse é um modelo global. Veja, por exemplo, que as indústrias automobilística e de eletroeletrônicos da Coreia do Sul se tornaram globais, porque essa foi uma decisão do país, com a participação do governo, da indústria e da academia. Hyundai, Kia, LG e Samsung não surgiram apenas porque o mercado quis. Houve uma decisão de política macroeconômica coreana.
Como a RNP pode ajudar a enriquecer ainda mais o ambiente de P&D do país?
A RNP, por definição, é um instrumento para enriquecer o ambiente de P&D no Brasil. As tecnologias da informação e comunicação têm uma característica talvez ímpar: elas são, em si, inovadoras e, ao mesmo tempo, indispensáveis para que todos os setores também possam inovar. Entendendo que as TIC estão na forma e no conteúdo da RNP, minha expectativa é que a organização continue expandindo suas atividades e seus serviços para a comunidade de ciência e tecnologia no país. Uma boa maneira de se medir a importância de alguma coisa é pensar como ficaríamos se ela deixasse de existir. É impensável o sistema nacional de ciência e tecnologia sem a RNP. Então, torcemos por uma organização cada vez mais forte e atuante.