Programa de P&D desenvolve ferramentas mobile voltadas para profissionais de saúde e educação

- 11/09/2015

Mobilidade pode ser entendida em um sentido mais restrito, pelo uso de dispositivos móveis como celulares ou tablets, mas também pode ser vista de uma maneira mais ampla, como a liberdade proporcionada pela tecnologia em realizar atividades em qualquer lugar e a qualquer tempo.

O fato é que o uso de tecnologias móveis com acesso à internet abriu novas possibilidades para diversos setores, como por exemplo o surgimento de métodos inovadores no processo de ensino e aprendizagem. O chamado Mobile Learning tem revolucionado a forma tradicional de consumo de conteúdos educacionais, pela independência do aluno em aprender quando e onde for mais conveniente, em uma dinâmica diferente da oferecida pelos cursos presenciais.

Os dispositivos móveis também têm o potencial de ampliar a atuação dos profissionais de saúde, que os usam para facilitar o atendimento em lugares remotos, auxiliar o acompanhamento de pacientes com restrição de locomoção, promover a troca de informações entre pares, possibilitar a coleta de dados em campo, entre outras aplicações.

Com o objetivo de desenvolver soluções em TIC que possam apoiar os profissionais dessas duas áreas de conhecimento, a RNP lançou, em 2014, dois programas temáticos de P&D, um específico para Ensino a Distância (EaD) e outro para e-Saúde. A missão dos editais foi coordenar o desenvolvimento de ferramentas que promovam o uso inovador da rede via soluções que potencializem a colaboração remota.

De 104 propostas enviadas pela comunidade acadêmica, cinco foram selecionadas. Era condição desejável que as soluções fossem multiplataforma, ou seja, pudessem ser acessadas de dispositivos diversos como desktops, celulares, tablets, entre outros. É o caso do Grupo de Trabalho de Recursos Educacionais Multiplataforma e Abertos na Rede (GT-Remar), da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), que propõe uma plataforma para autoria e publicação de Recursos Educacionais Abertos (REA), ou seja, objetos de aprendizado de diferentes mídias com licença de publicação e reutilização de uso público.

Segundo o coordenador do projeto GT-Remar, o professor da UFSCar, Delano Medeiros Beder, o aluno pode participar de um jogo online de química no laboratório de informática da escola, e finalizar em casa no tablet, pois as versões Android e web são sincronizadas, assim como o professor, que pode levar os recursos educacionais abertos de casa, pelo smartphone.

Outro Grupo de Trabalho, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aproveitou o aumento do uso de dispositivos móveis entre os jovens para estimular o interesse dos alunos pelas disciplinas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, em inglês). Para isso, o grupo dedica-se à experimentação remota móvel no GT-MRE (Mobile Remote Experimentation), propondo uma solução de execução de experimentos físicos reais à distância, por dispositivos conectados à internet. Pelo MRE, é possível reconfigurar um circuito elétrico, por exemplo, e reexecutar o experimento, facilitando o aprendizado de maneira mais didática.

O terceiro Grupo de Trabalho selecionado pelo edital de EaD, o GT-LabVad da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também explora o tema de laboratórios virtuais, priorizando a experimentação guiada por programação lógica. Na plataforma LabVad, é possível programar placas eletrônicas Arduino e executar o experimento em um laboratório virtual de robótica. Disponibiliza-se também uma linguagem visual de programação que facilita o entendimento da lógica por jovens em fase de aprendizado.

De acordo com o pesquisador, o laboratório remoto desenvolvido pelo grupo tem como principal vantagem deslocar a demanda para outros laboratórios remotos participantes do consórcio LabVad, de forma transparente para os usuários. Hoje, o consórcio LabVad conta com duas estações de trabalho, uma na UFRJ e outra na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Mobilidade a serviço da e-Saúde

No campo da e-Saúde, os desafios também são grandes. Com o aumento do uso de smartphones e tablets, houve um movimento liderado pelo Ministério da Saúde em disseminar o uso de tecnologia móvel para os profissionais que integram programas de Saúde da Família, por exemplo, e o investimento maior em EaD, com a Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS), que oferece cursos de capacitação.

No entanto, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) percebeu que não havia uma produção sistemática de informação sobre doenças raras, de origem predominantemente genética, que afetam 65 a cada 100 mil indivíduos no país.

Com o lançamento de uma política nacional de atenção em doenças raras, pelo MS em 2014, surgiu a proposta selecionada pelo edital de e-Saúde da RNP, que desenvolve um banco de dados sobre essas doenças, disponíveis tanto na versão Android como web. “Foi uma questão de oportunidade e necessidade. Havia muita informação produzida na universidade e muita demanda vinda de pacientes, cuidadores e familiares, em busca desse conhecimento”, explica o coordenador do projeto e professor da UnB, Natan Monsores.

Já o Grupo de Trabalho MobVida, do Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal de Pernambuco (Nutes/UFPE), propõe usar os dispositivos móveis como aliados para facilitar o atendimento na atenção básica e a coleta de informações em campo pelos agentes comunitários de saúde. Os pesquisadores desenvolvem uma plataforma de questionários inteligentes, por onde é possível encaminhar de forma integrada as informações de cada atendimento.

“O caso de estudo escolhido para o protótipo foi a população idosa, pela dificuldade do diagnóstico de sua saúde mental e de locomoção desses pacientes, pois muitos deles estão acamados e não podem ir até a unidade de saúde”, comenta a professora da UFPE, Paula Diniz.

Os Programas de P&D de GTs Temáticos foram financiados pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento na Educação (FNDE), no âmbito do Programa Interministerial da RNP.