RUTE reúne especialistas em infectologia em webinar sobre o novo coronavírus
Na tarde do dia 9/3, a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) reuniu três especialistas em infectologia em um webinar para apresentar para a comunidade “como estamos enfrentando o Covid-19”. A Profa. Dra. Nancy Bellei, da Unifesp, tratou do avanço da infecção no mundo, com ênfase aos aspectos virológicos e clínicos; o Prof. Dr. Eduardo Medeiros, também da Unifesp, abordou as iniciativas nacionais para impedir que a doença se alastre no país; e a Profa. Dra. Ho Yeh Li, da USP, contou os detalhes da experiência de isolamento em Anápolis, onde ficaram os brasileiros repatriados vindos de Wuhan, epicentro do novo coronavírus na China. A apresentação foi moderada pelo Dr. Nelson Akamine, diretor de TI do Hospital Universitário São Paulo, da Unifesp.
A Dra. Nancy Bellei iniciou o encontro apresentando dados sobre o alastramento da infecção, desde seu aparecimento em dezembro, na China, ressaltando que a taxa de letalidade no país asiático vem diminuindo desde janeiro, graças às medidas adotadas pelo governo local. Ela destacou que o cenário mais relevante para o Brasil acompanhar de perto é o italiano, pois, no primeiro caso confirmado no país, o vírus apresentou sequenciação muito parecida com os da Itália. Disse, também, que ainda não há registro de casos confirmados em crianças e que o risco de óbito aumenta progressivamente de acordo com a idade do infectado, chegando a 15% nos pacientes com mais de 80 anos.
“O reconhecimento precoce de pacientes é essencial para o controle efetivo nesta fase de contenção da transmissão local. As características clínicas não permitem distinguir a doença de outras infecções respiratórias virais. A evolução clínica com piora tardia e a ausência de biomarcadores iniciais de pior prognóstico deve determinar maior atenção aos pacientes considerados de risco para doenças respiratórias virais”, alertou a professora.
Em seguida, o Dr. Eduardo Medeiros deu um panorama de como o Brasil está enfrentando o novo coronavírus. Ele frisou a grande preocupação com relação aos hospitais universitários, por conta da rotatividade nos locais, citou a importância da comunicação e do acompanhamento dos boletins emitidos pelo Ministério da Saúde e apresentou as medidas adotadas pelo Hospital Universitário São Paulo, da Unifesp. Segundo o infectologista, o país está preparado para enfrentar o Covid-19 e teve rapidez na resposta, com a emissão de boletins epidemiológicos diários, criação de materiais para a vigilância, divulgação de instruções de procedimentos da doença e fortalecimento da rede laboratorial.
“Até o momento, a epidemia está sob controle no país, pois está sendo possível a identificação da transmissão. A partir do momento em que não conseguirmos mais identificar o elo epidemiológico é que teremos grandes problemas”, afirmou o professor Eduardo.
Repatriação dos brasileiros em Wuhan
A Dra. Ho Yeh Li encerrou o webinar contando como foi planejada e executada a ação de repatriação dos brasileiros que estavam Wuhan, epicentro da doença na China, em fevereiro. Várias adaptações precisaram ser feitas no avião da Foça Aérea Brasileira (FAB) para que médicos monitorassem o estado clínico dos passageiros durante a viagem, que teve quatro escalas e durou mais de 40 horas. Na base aérea de Anápolis, em Goiás, onde os repatriados ficaram por 14 dias, tudo correu da melhor maneira e a ação foi considerada um sucesso, sem nenhum caso de coronavírus registrado.
“Temos que elogiar a preparação que foi feita na base aérea de Anápolis. Foram criadas áreas de convivência e locais abertos para prática de exercícios físicos que reduziram o estresse e tornaram todo o processo mais leve”, contou a Dra. Ho Yeh Li.